Masp, MAM e Museu do Amanhã são alguns exemplos de instituições culturais que unem curadoria e comunicação para transformar alcance

Em 2022, durante a 26ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (Icom), foi estabelecida uma nova denominação para os museus. Representantes de mais de 500 instituições em todo o mundo votaram, e 92,4% foram favoráveis à mudança.

A antiga definição descrevia os museus como “instituições permanentes, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, abertas ao público, que adquirem, conservam, investigam, comunicam e expõem o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”.

A nova formulação, aprovada por unanimidade, amplia esse escopo com os trechos: “a serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe patrimônio material e imaterial, e acessíveis e inclusivos, os museus promovem a diversidade e a sustentabilidade. Atuam e se comunicam de forma ética, profissional e com a participação das comunidades, oferecendo experiências variadas de educação, entretenimento, reflexão e compartilhamento de conhecimento.”

Mais do que uma mudança semântica, a nova definição reflete uma mudança de visão: o museu deixa de ser visto apenas como guardião da memória e passa a se entender como agente ativo da sociedade. Essa virada conceitual, inevitavelmente, impacta também a forma como essas instituições se relacionam com o público.
Com o poderio de autoridade em acervo cultural e curadoria, os museus passam por uma transformação e se comportam cada vez mais como marcas — utilizando seu branding para se conectar com novos públicos, circular fora de seus espaços físicos e ampliar o alcance da arte no cotidiano.

Peça de comunicação da coleção de collab entre o Masp e a marca Zerezes (Divulgação)

MAM em Movimento

Esse novo posicionamento não se traduz apenas em discurso, mas em prática. No caso do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), a transformação ganhou forma literal: a instituição precisou sair de casa para continuar existindo.
Devido à reforma na marquise do Parque Ibirapuera, a sede do MAM está temporariamente paralisada, assim, o museu precisou repensar a forma como a arte poderia intervir no dia a dia para além de suas instalações.

Raphael Vandystadt, diretor de sustentabilidade e relações institucionais da Africa Creative e diretor de comunicação do MAM, cita Cazuza para explicar o conceito da campanha ‘MAM em movimento’. “Lembra do verso do Cazuza: ‘eu vejo um museu de grandes novidades’. Pois a ideia nasceu da necessidade de manter o MAM presente mesmo com suas portas fechadas. Com o apoio da Africa Creative, transformamos esse desafio em oportunidade: criamos o conceito guarda-chuva de iniciativas que leva as exposições e ações educativas do museu para diferentes espaços culturais da cidade”, explica.

Raphael Vandystadt, diretor de sustentabilidade e relações institucionais da Africa Creative e diretor de comunicação do MAM (Divulgação)

Entre elas estão MAM na Cinemateca: Corpo e Cidade em Movimento, na Cinemateca Brasileira; Jardim do MAM, no Sesc Vila Mariana; e Aqui-Lá: MAM São Paulo encontra Instituto Tomie Ohtake.

Branding cultural

O movimento de aproximação entre cultura e marca não surge por acaso. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, publicado na Revista Espacios (2016), aponta que a sobrevivência dos museus depende da capacidade de transformar a visita em experiência, indo além da participação passiva e da lógica expositiva tradicional. Essa perspectiva os aproxima das marcas, que buscam engajamento e vínculos emocionais, algo que a arte sempre foi capaz de construir, mas agora é potencializado.

Vandystadt defende que a publicidade tem o poder de transformar a relação das pessoas com a cultura e influenciar mudanças positivas de comportamento. “O museu fortalece sua presença simbólica e institucional, enquanto os criativos envolvidos se alimentam da força sensorial e conceitual da arte”, diz.

Leia a íntegra da reportagem na edição impressa de 10 de novembro.