No início do ano, a epidemia de zika no Brasil já era pauta de jornais como The New York Times, The Guardian e Le Monde. Havia muita especulação na internet sobre a verdadeira causa da doença. Mas o briefing do Ministério da Saúde era bem preciso: a única forma de prevenir a zika é promover uma mudança no comportamento do brasileiro, que não pode deixar água parada.

A pergunta que norteou a equipe da beGIANT foi: como começar a mudar o comportamento da sociedade? Sem dúvida, por meio das crianças. Elas não são apenas os cidadãos do futuro, mas também verdadeiros “vigilantes” nos lares brasileiros. Quem tem filhos, sobrinhos, netos sabe bem disso. Criança cobra a família para usar cinto de segurança, questiona fumantes, indaga sobre tudo. Tínhamos de aproveitar essa realidade, transmitindo informações e argumentos para as crianças cobrarem, em casa e na escola, ações efetivas contra o mosquito Aedes Aegypti.

O grande desafio foi encontrar a linguagem certa para dialogar com o público. Decidimos que ela deveria ser acessível, mas de igual para igual, não professoral, a fim de que a criança compreendesse e passasse adiante as informações. Era necessário, também, engajar pais, professores e outras figuras presentes no processo de aprendizagem desse público. A solução estava no conteúdo. Pensamos: e se convidarmos músicos brasileiros consagrados e fizermos videoclipes de animação sobre o tema? Desse raciocínio, nasceu, então, o projeto “Crianças Contra Zika”, com o ambicioso objetivo de produzir uma série de branded content distribuída, gratuitamente, na TV aberta.

Era hora de colocar o projeto de pé. Não foi uma tarefa fácil. Primeiro, decidimos convidar um curador relevante para a série. Alguém que não apenas conhecesse bem o público infantil, mas que também dialogasse com músicos de diferentes linguagens – uma personalidade, enfim, respeitada entre os artistas.

André Abujamra era a escolha perfeita. Além de ter criado trilhas para atrações como “Castelo Rá-Tim-Bum”, por exemplo, ele já havia feito parcerias com uma extensa lista de músicos. Ao conhecer o projeto, Abujamra se apaixonou pela ideia. Logo, reuniu Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Palavra Cantada, Marisa Orth, Hélio Ziskind e Xis. Os artistas mergulharam de cabeça na iniciativa, compondo seis canções infantis.

Cada música ganhou um videoclipe de animação, com técnicas diferentes: 2D, 3D, cordel, stop motion, colagem e cubismo. Todos tiveram direção-geral de Baboo Matsusaki, responsável pela abertura e pelo encerramento do premiado longa “O Menino e o Mundo”, indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2016.

Para abordar o assunto de forma ampla, cada compositor trabalhou uma questão a partir do tema predefinido. Zeca Baleiro (foto acima), por exemplo, dedicou-se a falar do mosquito: “Eu sou dengoso e perigoso/Minha picada é do mal/Pois eu transmito os três vírus/Como eu, não tem igual”. Já a Palavra Cantada tratou, de maneira lúdica, da importância de virar para baixo os objetos que acumulem água: “Vira, vira o pneu/Vira, vira o baldinho/Vira, vira a bacia/E acaba o mosquitinho”.

Além dos videoclipes, o “Crianças Contra Zika” conta com seis minidocs – cada um deles, referente a um dos artistas convidados. Nessas peças, os compositores abordam o processo de criação das músicas, a importância de falar com as crianças sobre a zika e os cuidados que eles mesmos tomam para evitar a proliferação do Aedes Aegypti. “As crianças têm esse desejo de participar socialmente e pensar na coletividade, no meio ambiente, nas questões da sua rua, do seu bairro, da sua cidade, do seu país, do planeta”, lembra Arnaldo Antunes. “Elas são aprendizes, mas também estão ensinando. ”

Em seu minidoc, Marisa Orth diz: “Crianças são heróis. É uma vitória muito grande quando a criança consegue implantar uma ideia. E é uma delícia quando uma criança tem mais razão que o adulto”. Para André Abujamra, “se você mostra algo lúdico a uma criança, para que a imaginação dela se misture com as coisas que é preciso aprender, ela vai assimilar isso”.

Em conjunto com o cliente, seis empresas atuaram diretamente no “Crianças Contra Zika”: beGIANT, Propeg, Mondo, Daemon Filmes, Santa Rita Filmes e SBT. Isso, sem contar outras dezenas de parcerias, durante três meses de intensa produção musical e audiovisual.

Dá para imaginar, então, o trabalho dessas equipes, de modo a realizar seis animações diferentes, envolver simultaneamente sete músicos reconhecidos, conciliar suas agendas, gravar seis minidocs com esses artistas?

Foi uma verdadeira maratona. Mas valeu cada esforço, cada desafio. Levamos para a TV aberta a primeira série sobre o tema “zika”. Nas salas de aula de todo o Brasil, os professores puderam utilizar letras, canções e vídeos. Criamos uma página no Facebook voltada às crianças e aos pais, além de um site exclusivamente dedicado aos professores. Fizemos mais de 50 GIFs para espalhar pela internet.

Sem investimento nenhum em veiculação, o projeto totalizou duas horas e 22 minutos de exibição na TV aberta, durante a programação infantil do SBT. Isso corresponde a quase R$ 10 milhões em mídia. Só no Facebook, o “Crianças Contra Zika” gerou mais de 51 milhões de impactos e 500 mil interações. A iniciativa foi pauta de dezenas de matérias, em jornais, revistas e portais do Brasil e do exterior. E o mais importante: tornou-se referência internacional na luta contra o Aedes Aegypti.

Depois de a série ser exibida no SBT, canais fechados entraram em contato com a beGIANT, demonstrando interesse em distribuir o conteúdo. E, assim, o “Crianças Contra Zika” foi transmitido por canais regionais. Tivemos de legendar o conteúdo, inclusive, para o espanhol, devido ao interesse do público latino.

E o projeto não para por aí. Em julho, será lançado um álbum eletrônico com as seis músicas inéditas. Ele estará disponível em mais de cem plataformas de áudio, incluindo Apple Music, Google Play, Spotify e Deezer.

Por ser atemporal, o “Crianças Contra Zika” poderá gerar novos resultados, especialmente ao ser trabalhado, cada vez mais, por educadores de todo o país. Com o projeto, milhares de crianças continuarão a incentivar os adultos na tomada de atitudes responsáveis para o combate à zika. Como diz a canção de Hélio Ziskind: “Vamos ajudar/Água parada não vai ficar”.