Managing director da Monks, Marina Pires reflete sobre o momento do mercado e os desafios de liderar uma agência nativa digital

Marina Pires tem passagens por empresas como Accenture e Google, além de experiência como educadora na ESPM e profissional de marketing na Africa Creative e na Editora Abril.

Na Monks, onde atua como managing director do Brasil desde 2024, ela combina sua vivência em tecnologia com a criatividade que o marketing exige. Desde sua chegada, a agência passou por transformações.

“Quando a Monks nasceu, há cerca de 15 anos, surgiu como Media.Monks, um nome que representava o digital como meio. A partir do momento em que percebemos que o digital deixou de ser meio e passou a ser tudo, esse termo não fazia mais sentido. Por isso, nos tornamos apenas Monks, uma casa criativa que une dados, tecnologia e storytelling”.

Na entrevista a seguir, a executiva relata os principais detalhes da operação no país e reflete sobre o momento do mercado e os desafios de liderar uma agência nativa digital em constante evolução.

Qual é a média de idade de quem trabalha na Monks? Como avalia a juniorização?
Temos uma base muito jovem, o que nos obriga a nos atualizar. Nossa gênese em conteúdo explica isso. A Monks começa no Brasil com uma frente forte de produção e rapidamente se associa à Circus, agência latino-americana com DNA de social media. Isso trouxe muita gente nativa de redes. Hoje, nossa base é majoritariamente jovem, com idade média entre 23 e 25 anos. Isso não significa “juniorização”. Acreditamos que quem vive o ambiente domina linguagem, códigos e dinâmicas. Nos cargos de liderança, também somos uma agência relativamente jovem, já que investimos bastante no desenvolvimento de profissionais após as aquisições, e a média da liderança é de 36 anos.

Além do viés etário, quais as outras formas de incentivo a um corpo diverso?
O programa Rockets traz diversidade e inclusão não apenas pelo viés etário, mas também social, pensando em minorias e grupos sub-representados. A diversidade, para a gente, ultrapassa a questão da idade. Quando olhamos para o mercado e seus desafios, acredito que estamos caminhando para uma nova fase à medida que o trabalho mais operacional ou processual dá espaço à tecnologia, e disciplinas mais antigas, como filosofia, sociologia e antropologia, voltam a ganhar relevância. São áreas que exigem estudo profundo. Esse repertório está, muitas vezes, associado a perfis com maior idade, ou seja, pessoas com mestrado, doutorado, anos dedicados à pesquisa, que agora se tornam essenciais para dar sentido à complexidade que vivemos. Essa também é uma forma de diversidade ao trazer, inclusive, acadêmicos, que antes estavam desconectados do mundo corporativo.

Como funciona o programa Rockets e há quanto tempo vocês o realizam?
Existe há cerca de cinco ou seis anos. Ele sempre teve recortes sociodemográficos; já tivemos temporadas focadas em mulheres, em pessoas LGBTQIA+ e, recentemente, em PCDs. Cada edição prioriza um grupo, porque as necessidades e as skills são diferentes, e o objetivo é desenvolver essas pessoas. É um programa consistente, com duração de dois anos, e tem uma taxa de efetivação alta entre 85% e 90%. As pessoas se adaptam muito bem à nossa cultura, e quando não conseguimos efetivar alguém é uma dor enorme, porque elas se tornam parte do nosso dia a dia. Temos muito orgulho do Rockets, mas também um grande senso de responsabilidade. Muitas iniciativas de inclusão acabam frustradas quando o desejo não encontra suporte real nas companhias. Nosso foco é garantir consistência no recrutamento, treinamento e, principalmente, na permanência dessas pessoas por mais tempo do que o próprio programa.

Marina Pires, managing director da Monks no Brasil (Divulgação)

Quantas pessoas participam por temporada?
Na última, tivemos nove pessoas. Esse número varia conforme a nossa capacidade de efetivar as turmas. Fazemos projeções para garantir o maior índice possível de permanência. Quando há dúvidas sobre o crescimento de determinada área, somos mais conservadores — como neste ano.

Você tem passagens por empresas com tecnologia no centro dos negócios. No caso da Monks, ocorre a união de marketing com dados. Como você avalia a forma como sua trajetória a ajudou a chegar à cadeira de managing director do Brasil?
Olha, eu não consigo imaginar estar nessa cadeira sem essa passagem. Eu não vou mentir para você dizendo que eu tinha um plano linear. Mas, olhando em retrospectiva, vejo que faz sentido ou que consegui dar sentido à medida que as oportunidades foram aparecendo. A curiosidade sempre me guiou de forma quase patológica. Eu quero entender, quero me sentir minimamente dentro do mundo em que estou. E a tecnologia dá essa pista: quando você a segue, ela geralmente gera mudanças de comportamento, culturais, econômicas, políticas e até regulatórias. Eu não venho desse background. Fiz comunicação, depois fui para semiótica; não tenho formação hard tech. Mas, passo a passo, fui me cercando de pessoas técnicas, que admiro muito, e fui gostando desse papel de tradução em que olho para o mundo dos hard skills, técnico, muitas vezes autorreferente, e aprendo a falar essa língua. Não fluentemente a ponto de programar, mas o suficiente para traduzir conversas mais subjetivas e criativas.

Como essa cultura se conecta à expansão global e às aquisições pela S4?
A Monks sempre foi muito orientada a plataformas digitais e soluções de tecnologia de ponta, sempre conectadas ao universo da comunicação e do marketing. Nunca fomos um parceiro de robótica nem pure player. Quando surgiu a possibilidade de ser adquirida pela S4, isso ocorreu junto com outras 33 aquisições pelo mundo. A S4, ao se consolidar após a saída do grupo do WPP, quis construir uma plataforma de serviços de marketing sem redundâncias, formada por players complementares. Essas 34 empresas compartilhavam atributos: todas nativas digitais, ágeis, com um backbone leve e fundadores muito presentes. Mais importante: todas acreditavam que tudo é conectável e modular. No Brasil, uma aquisição-chave foi a raccoon, à época um dos maiores players de mídia digital de performance da América Latina, o que trouxe força ao negócio local.

Leia a entrevista completa na edição do propmark de 20 de outubro de 2025