Em seis meses de pandemia, uma frase que se tornou comum ouvir é a de que “Nada será como antes”. É uma afirmação que vem virando, inclusive, um lugar-comum. A meu ver, é uma ideia que chega a ser simplista – e fatalista. Até porque a vida, aos poucos, vai voltando ao normal. Estamos, sim, retornando a fazer coisas que fazíamos antes do aparecimento do coronavírus, seguindo obviamente os protocolos de saúde e segurança estabelecidos, e preservando quem é do grupo de risco.

As pessoas estão retomando pequenos prazeres, como sair para tomar um drinque com os amigos ou sair para jantar, em pequenos grupos, claro. Sem dúvidas, o movimento em bares e restaurantes está abaixo dos níveis pré-pandemia, mas está numa crescente. Uma consulta informal provou isso.

Outro dia fiquei impressionada com a grande movimentação em bares e ruas de um dos bairros mais badalados de São Paulo, o Itaim Bibi, em uma noite de verão antecipado. Também ouvi de uma executiva de uma grande marca de alimentos que eles se preparam para atender às demandas de consumidores que farão pequenas confraternizações de fim de ano. Ou seja, a tendência é as pessoas fazerem ‘Natais’ em grupos menores, mas não deixarão de se confraternizar.

Esse tipo de afirmação de que “Nada será como antes” parece mais coisa de marqueteiro. Tem empresa anunciando que hoje a única certeza que todos temos é de que nada será como antes, e que só o conhecimento salva. Isso não é verdade, inclusive no ambiente dos negócios muita coisa vai voltar a ser como antes, e outras vão mudar, é óbvio.

O que as empresas precisam fazer – e a maioria está correndo atrás disso – é estarem preparadas para se adaptar às transformações que teremos pela frente. A digitalização de processos que todos os setores foram obrigados a fazer em tempo recorde vai exigir novos esforços das marcas, sem dúvidas. Afinal, apesar de o digital ter sido a tábua de salvação nesse período, a conta vai vir em breve. Como os aplicativos de delivery, por exemplo, estão lidando com entregas erradas de supermercados?

Não se trata de uma crítica direta aos apps, que fizeram um trabalho excepcional para atender à alta demanda, principalmente no início da quarentena – até os idosos entraram nessa onda. Parênteses: um alto executivo de um dos maiores apps me contou que durante este período de isolamento social a adesão de pessoas acima de 60 anos comprando via aplicativo cresceu mais de 200%. A questão aqui é exemplificar como as marcas, dos mais variados segmentos, precisarão lidar com as implicações dos processos de digitalização para solucionar possíveis queixas, problemas e satisfazer os seus consumidores.

O home office é outra prática que deve se manter após a quarentena, mas com certeza não dá para pensar que isso vai se perdurar para sempre, pelo menos não integralmente. Grandes marcas já estão voltando a reabrir os seus escritórios com parte dos seus times trabalhando presencialmente.

Esse movimento só tende a aumentar e puxar também a reabertura das agências de publicidade, principalmente com a iminente aprovação da vacina prometida para este ano. Temos muitas dúvidas de como será a vida após a vacina, mas uma coisa é certa: não dá para dizer que nada será como antes. Até esse “novo normal” que muita gente profetiza pode ser esquecido em breve e a pandemia entrar para os livros de História, como outras. Vamos aguardar, torcer e ter resiliência.