Nova Iorque. US Open. O último Grand Slam do ano. Um dos torneios de tênis mais esperados e disputados do circuito. No Arthur Ashe Stadium – a maior arena para esse esporte no mundo –, mais de 20 mil pessoas vibravam a cada jogada espetacular do Federer, Nadal, Serena, Andreescu, Medvedev, entre outros gigantes da raquete. Eu, superfã do Federer, era um deles. A atmosfera, o espetáculo, as jogadas, tudo grandioso. Tão grandioso que é impossível acompanhar todos os jogos, todos os lances. A não ser que você seja Watson. Nos intervalos, Watson, a inteligência artificial da IBM, exibia os melhores momentos do US Open. Critério? Watson analisava uma quantidade gigantesca de dados extraídos das partidas e trazia o suprassumo para o público. Presencial através dos telões e, também, pelas transmissões da TV. Dados não só das jogadas: a IA da IBM analisava também as expressões do público, seus gestos e reações e, com os movimentos dos jogadores, concluía o que de fato tinha sido surpreendente em cada partida. Essa informação era trazida no vídeo junto com os melhores momentos. Algo que comentaristas com os olhos obviamente fixos na partida seriam incapazes de fazer.

Ainda na cidade que nunca dorme. Dessa vez no Chelsea Market. Fui conhecer a instalação Machine Hallucination, do artista e designer turco Refik Anadol. O experimento, criado por Anadol e sua equipe, identificou padrões via machine learning em mais de 3 milhões de imagens, que representam uma série de estilos arquitetônicos e suas conexões ao longo da história. O resultado é uma experiência imersiva, tecnologicamente alucinógena, nessas imagens. Prédios, construções, pixels: tudo se conecta. Promotoras distribuem almofadas para que você possa sentar (ou deitar) e apreciar essa mágica mistura de fotografias, vídeos e algoritmos, projetados em todas as superfícies do ambiente.

Dois exemplos inteligentes de uso da inteligência artificial. Dois exemplos em que a realização de uma ideia só foi possível graças aos dados. Agora, ter acesso aos dados, não significa que você sabe o que fazer com eles. Os números não falam até que você faça a pergunta certa. Aí é que entra a sensibilidade, a criatividade, a análise humana.

Por falar em humano – ou super humano – Rafael Nadal foi o campeão do US Open. Provavelmente ele vai terminar o ano de volta ao primeiro lugar no ranking da ATP. Seus resultados não param de surpreender o mundo esportivo. Os dados mais uma vez ajudam a explicar a performance. O forehand (golpe de direita) cheio de spin do espanhol atinge impressionantes 5 mil rotações por minuto, segundo o estudo de autoria do especialista em biodinâmica John Yandell. O do Federer, por muitos, considerado o melhor de todos os tempos, gira em média 2.700 vezes.

Humanas e exatas juntas transformando dados em ouro: essa é a verdadeira alquimia digital. Isso vale pro tênis, pra arte, pra publicidade, pra vida.

Álvaro Rodrigues é CEO/CCO Fullpack