Agora é para valer. Orlando Marques – CEO do Grupo Publicis no Brasil, respondendo pelas agências Publicis Brasil, Salles Chemistri, Publicis Dialog, AG2 Publicis Modem, Publicis Red Lions, Digitas e Razorfish – assumiu a presidência da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). Marques confessa que adiou aceitar o convite enquanto pôde, mas acabou cedendo, sabendo que lhe custará abrir mão de outras atividades. Considera-se um líder agregador, capaz de juntar pessoas em torno de ideias, desafios, tarefas e missões. E costuma dizer que os mais ocupados são os que têm mais tempo, porque têm a capacidade de delegar, cobrar e priorizar. Marques dará continuidade ao trabalho de Luiz Lara e não planeja nenhuma grande revolução na entidade. Também não pretende fazer um novo Congresso e acredita que o modelo de agência de publicidade no Brasil não deve ser discutido ou questionado, embora reconheça que é um tema ao qual as lideranças do setor devem se manter atentas, pois precisa ser defendido e divulgado. Veja a seguir os principais pontos da entrevista.
A decisão
“Há um momento na vida em que você precisa ter coragem de tomar decisões, mesmo que elas signifiquem uma piora geral na sua qualidade de vida e uma redução do tempo disponível para os amigos, para o lazer e para a família. Eu recusei o convite dos amigos da Abap enquanto pude. Mas a pressão foi maior e acabei cedendo.”
Missão
“Pretendo dar continuidade ao belo trabalho do Luiz Lara, que, por sua vez, deu sequência ao que vinha sendo feito pelo Dalton Pastore. Não tenho nenhum Congresso para fazer, mas sei que continuar nessa batalha diária pela defesa dos nossos valores empresariais, da liberdade de expressão comercial e da livre iniciativa já são desafios suficientemente grandes e importantes, que exigem atenção e atuação. Isso sem contar a implementação das teses do V Congresso que devem ser colocadas em prática e para as quais estarei muito atento e atuante.”
Agregador
“Eu sou um cara que gosta de juntar pessoas em torno de ideias, desafios, tarefas e missões. Já estou juntando essas pessoas para tocarmos esses desafios. Eu não imaginava que existia tanta gente querendo ajudar e fiquei muito feliz com a acolhida. Não tive nenhuma recusa. Todos a quem convidei para formar a chapa, para participar da diretoria e dos comitês, aceitaram.”
Sem revoluções
“Não planejo nenhuma grande revolução na entidade. Vamos acelerar a implementação das teses do V Congresso e atuar em todas as frentes em que possamos ajudar o mercado a ser mais profissional e mais comprometido com os valores da livre iniciativa e da defesa do nosso modelo de negócio.”
Divisão
“Já estou ocupado na divisão de trabalho entre as minhas várias atividades. Eu sempre achei que os mais ocupados são os que têm mais tempo, porque têm a capacidade de delegar, cobrar e priorizar. É o que faço. Aqui, na Publicis, a estrutura ainda precisa muito da minha presença. Mas o time, liderado pelo Hugo Rodrigues, João Fernando Vassão, César Paz, Alfredo Reikdal e outros, é muito bom. E eles aceitam dividir um pouco dessa missão comigo.”
Crescimento
“Acredito que o mercado vai crescer. Mas talvez não nos mesmos níveis de 2012, porque tem muito cliente poupando para investir durante a Copa.”
Restrições
“Essas tentativas de restringir a propaganda afetam a Abap. Porque podem levar a uma redução de investimentos. Porém, mais do que isso, afetam a democracia brasileira, porque interferem no livre mercado, na liberdade de expressão comercial e por isso a Abap é contra qualquer iniciativa nessa direção. O precedente é perigoso e quem nos proíbe de anunciar a batata frita hoje pode querer intervir amanhã no direito de escolha do cidadão, que é a base de qualquer democracia. Nós não precisamos de um Estado paternalista, no qual haja leis e normas para tudo. Nós precisamos de balizas e leis que norteiem a sociedade e que ela própria procure sua autorregulamentação. O Conar é o melhor exemplo disso.”
Estrangeiros
“O Brasil continua e continuará atraindo investidores internacionais em todos os níveis, e no mundo da comunicação não é diferente. Ainda há e haverá muitas oportunidades de investimento no Brasil nos próximos anos.”
Nome do jogo
“Integração é o nome do jogo. Temos de oferecer todos os serviços ao cliente. Este não quer falar com cinco ou dez profissionais ou empresas para resolver sua vida. Ele quer ter um interlocutor que ofereça todas as ferramentas e lidere o trabalho todo. Se o trabalho digital vai ser feito pela agência off ou online não importa muito, desde que seja dentro de uma mesma estratégia, de uma mesma visão do negócio do cliente. As agências digitais continuarão existindo e crescendo. Na maioria das vezes, trabalharão juntas. Isso significa que existirão agências off e online, e agências que farão as duas coisas juntas.”
Modelo
“O crescimento das mídias digitais não interfere ou invalida o modelo brasileiro. Qualquer que seja a mídia, ela deve considerar o ambiente de negócios de cada país e o nosso é o que aí está para digitais ou não. Não vejo o porquê de rediscuti-lo por essa razão.”
Congresso
“Não vejo nenhuma razão para um novo congresso brasileiro de propaganda. Mas se houver necessidade de fazer o VI, também não vejo por que não realizá-lo e não terei nenhum receio de enfrentar mais esse desafio. Mas vamos primeiro implementar o que decidimos no V Congresso.”
Grandes questões
“As principais são: liberdade de expressão comercial; valorização da ideia criativa; conflito mesas de compra versus produto final de qualidade; legislação versus autorregulamentação. Em minha opinião, o modelo brasileiro de agência de propaganda não está em questão. Por isso não o listei. Mas, com certeza, este é um tema ao qual temos de ficar atentos, pois ele precisa ser defendido, divulgado. E deve ter seus valores sempre promulgados no mercado. Vale ressaltar que estamos falando do modelo original de agência de propaganda. O que temos aqui no Brasil é esse modelo original. Por isso, vamos defendê-lo. Afinal, funciona muito bem aqui.”