Não é incomum ouvir-se dizer que empresário que dá certo no Brasil dá certo em qualquer lugar do mundo. Embora não seja exatamente assim, é quase assim. Para empreender no Brasil é preciso muita energia, paciência, determinação, força de vontade e tudo mais, claro, além de talento e competência. Em doses muito maiores do que na maioria dos outros países. É raro o dia, mês e ano que um empresário não considere a possibilidade de desistir. Mas, felizmente para nosso país, a energia empreendedora fala mais alto e prevalece. O ambiente empresarial brasileiro é uma selva. Selva cerrada de bambus e cipós de todas as espécies totalmente entrelaçados. Aranhas, mosquitos, cobras e lagartos por todos os lados. E, ao cair da tarde, morcegos aos bandos. O empresário tem de estar o tempo todo preparado para surpresas de toda a ordem, desbastando o que vem pela frente para continuar em sua heróica trajetória. O peso da burocracia é desproporcional e asfixiante. Quando se deita, sangra. Recentemente o Diário do Comércio publicou um estudo realizado pela empresa de consultoria fiscal Fiscosoft. Entre outras conclusões, as seguintes:
1 – uma quantidade significativa de empresas gasta mais de 200 horas mensais para adequar sua gestão às constantes alterações legais;
2 – normalmente nessas empresas, o contingente de funcionários envolvidos nesse processo é de mais ou menos 15;
3 – Independentemente da quantidade de horas e do número de profissionais envolvidos, não é incomum o entendimento equivocado de determinadas normas, acarretando refações e multas;
4 – Todos os mecanismos supostamente simplificadores introduzidos pelo Fisco nos últimos anos só conseguiram levar o que se fazia no ambiente analógico para o digital, mas as redundâncias permanecem, e as empresas continuam com as mesmas obrigações de mandar os mesmos documentos e guias para diferentes repartições e autarquias; com todas as possibilidades e simplificações que a tecnologia possibilita, no Brasil, seu emprego pelo Estado, em vez de melhorar, piorou… Passamos a fazer o mesmo duas vezes…
5 – das 441 empresas entrevistadas, 42,3% delas disseram que o que mais as ocupava e preocupava era o correr atrás das modificações constantes para tentarem se preservar atualizadas;
6 – todas foram unânimes em afirmar que o pior dos impostos, que exige maior atenção e consome mais força humana e horas, é o ICMS. Muitas das empresas têm de ficar correndo atrás, o tempo todo, das especificidades da legislação de cada um dos 27 estados brasileiros.
7 – E ainda o absurdo de muitas empresas, temendo o Fisco, acabarem pagando muito mais do que o devido, pelas dúvidas constantes sobre leis e regulamentos, e se prevenindo de eventuais e pesadas autuações. Preferem pagar a mais a ter de correr riscos! Socorro!!!
Assim, depois desse estudo, pode-se dizer que o empresário brasileiro é movido por uma estranha e descomunal energia empreendedora, turbinada por teimosia e loucura. Quase hospício. Pessoas em plena posse do juízo empreenderiam em outros países, jamais no Brasil. Tomara que a lucidez, competência e visão moderna de Paulo Guedes e seus comandados consiga resgatar o empresário brasileiro, e preservar a única manifestação no ambiente corporativo e dos negócios que produz empregos. A única espécie de árvore – desconhece-se qualquer outra possibilidade em todo o mundo – onde dá essa deliciosa e essencial fruta emprego, que resgata a harmonia, a paz e a dignidade dos seres humanos. A empresa.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)