A chegada do brasileiro contribui com um novo momento para o país, que busca audiência e visibilidade para disputar a sede da Copa do Mundo de 2030
O mundo esportivo foi arrebatado na última semana com a confirmação da ida do astro brasileiro, Neymar Jr., para o futebol árabe. O agora ex-jogador do Paris Saint-Germain (PSG) desembarcou na Arábia Saudita, onde vai atuar pelo Al-Hilal, na última sexta-feira (18).
Com um contrato de dois anos e um valor bilionário, Neymar é mais um dos atletas de futebol que vai atuar pela Liga Saudita. Além do brasileiro, os times árabes já contam com grandes nomes do esporte como Cristiano Ronaldo, Karim Benzemá, Kanté, Fabinho, Firmino, Mahrez, Mendí e Mané.
Para Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a ida das estrelas para o futebol árabe faz parte do planejamento do país para sediar a Copa do Mundo de 2030. "A Arábia Saudita quer se impulsionar como marca. Eles querem se mostrar firmes na disputa para sediar a Copa do Mundo de 2030 e, para participarem dessa briga, precisam ser um país que tem cultura futebolística. Então, ter alguns dos principais jogadores do mundo na Liga ajuda", explicou o docente.
Além disso, a presença de astros abre uma porta de oportunidades para o mercado publicitário e serve para atrair os olhares do público para a liga em ascensão, que já conta com contrato de transmissão no Brasil com o Grupo Bandeirantes de Comunicação e com o canal no YouTube e streaming Goat.
“A chegada do Neymar ao futebol árabe pode ter impactos em diversas frentes. Em relação ao clube, é inegável que trará mais visibilidade e, consequentemente, vai gerar mais receitas, seja com a venda de produtos oficiais, bilheteria ou novos acordos de patrocínio. Nesse cenário, a própria Liga Saudita também se valoriza, porque passa a contar com mais um nome de peso e que tem alcance global. Do ponto de vista do atleta e das marcas que o acompanham, é a oportunidade de dialogar com um novo público e conquistar mais fãs/consumidores”, apontou Bernardo Caixeta, gerente de marketing da Penalty, empresa brasileira que atua no mercado esportivo desde 1970.
No caso da Bandeirantes, a transmissão do campeonato já conta com um patrocinador, a Euro17. A emissora já havia anunciado os jogos antes da contratação do Neymar, mas agora, com a chegada do atleta brasileiro, Rodolfo Schneider, diretor de conteúdo do Grupo Bandeirantes de Comunicação, afirmou que as expectativas aumentaram.
"A Liga Saudita é o campeonato do momento. As estrelas do futebol estão indo para lá nessa última janela de transferências e esse foi o torneio que mais investiu e comprou jogadores nos últimos tempos. Já seria uma transmissão muito boa, mas agora, com a chegada do Neymar, isso cresce de forma assustadora. Entendemos que na faixa de sábado na televisão aberta, que é quando vamos transmitir os jogos, teremos um crescimento de 200% a 300% de audiência em comparação ao que temos hoje", afirmou Schneider.
Já para o canal Goat, a presença do atleta brasileiro chega para confirmar a ascensão do futebol árabe, que começou ainda em 2022, quando Cristiano Ronaldo se apresentou no Al-Nassr.
"A Liga Saudita já tinha sido um atrativo ano passado, mas agora ela catapultou o interesse de forma absurda. O que acontece é que, agora, o centro econômico do futebol está em outro lugar. Ficou na Europa quem quis, mas eles não mantiveram todo mundo que queriam. Dos três principais jogadores do mundo, dois estão na Arábia Saudita (Cristiano e Neymar) e um está nos EUA, na MLS (Lionel Messi, atual jogador do Inter Miami)", explicou Guilherme Prado, partner e CCO do Goat.
Recém-lançado, o canal já conta com mais de 580 mil seguidores e, além da Liga Saudita, também é responsável pela transmissão da NWSL National Womens Soccer Leache (Regular season e Challenge Cup), Copa Argentina, Bundesliga, Brasileirão Serie C, Conmebol Libertadores e Sudamericana para três países estrangeiros (Japão, Irlanda e Reino Unido) com cobertura em português, UEFA Champions League (fase preliminar), UEFA Conference League (fase preliminar) e UEFA Europa League (fase preliminar) e está comercializando cotas de patrocínio para todas as competições.
"Hoje, nós temos sete ou oito propostas que estamos trabalhando. Elas são feitas de acordo com cada cliente, porque cada um tem uma necessidade. A gente consegue adequar o nosso produto às necessidades e características dos clientes", completou Prado.
Oportunidade versus cortina de fumaça
O futebol é um esporte que move paixões e, quem acompanha, assiste aos jogos independentemente de onde eles esteja acontecendo e do time em campo. Para o futebol árabe, a aposta está no fator ídolo para atrair os olhos dos amantes da bola.
No caso do Neymar, ele ainda conta com a raiz brasileira para mover multidões e, mesmo criticado por ter saído de um ambiente prestigioso como o futebol francês para um lugar novo com pouca cultura esportiva dentro das quatro linhas, Martinho aposta que o público vai se mobilizar para assisti-lo jogar — pelo menos nos primeiros jogos.
O docente também explicou que o momento é uma oportunidade para o produto futebol saudita no Brasil.
"Uma coisa é você querer assistir Cristiano Ronaldo e Benzemá, que são jogadores incríveis, mas não têm a mesma identificação que o Neymar tem. Esse é um pouco do que também aconteceu com a MLS, que poucas pessoas tinham ouvido falar, mas com o Messi jogando lá, o interesse aumentou. Esse é o fator que traz um ídolo, mas é importante falar que ter um ídolo jogando por lá, não transforma o futebol árabe do dia para a noite em uma Champions League ou uma La Liga. Demorou anos para o futebol europeu chegar onde chegou", afirmou Martinho.
Já em relação às marcas, ao mesmo tempo que se nasce uma oportunidade, o docente avalia o momento como um "ponto de interrogação" para os anunciantes, inclusive sobre as intenções que a Arábia Saudita pode ter por detrás da contratação de nomes do grande escalão esportivo.
"Eu acredito que tenha dois pontos importantes de se debater. O primeiro é que, ainda que seja muito noticiado, o futebol árabe não tem a mesma presença global e projeção que tem no futebol francês. Por outro lado, existe um ponto de interrogação para as marcas também. Muito se fala sobre o sport washing, então será que a Arábia Saudita não está querendo usar desse movimento do esporte para esconder do mundo outros assuntos políticos, sociais ou culturais que eles não querem que apareçam? Eu acredito que essa é uma questão que faz com que as marcas tendam a avaliar a associação com esse produto com bastante cuidado. Sem dúvida existe uma oportunidade por ser um produto novo, mas essa oportunidade vem junto de um certo incomodo que eu acho que coloca as marcas em uma situação de avaliação antes de saírem apostando nessa nova plataforma", completou.