O Brasil deixou de ser o país do futuro para ser o país do presente, vaticinam muitos. E todos concordam com a ideia de que o grande trunfo é a sua demanda interna, consumidora voraz e ávida por tudo o que lhe sempre foi negado. Nas palavras de Nizan Guanaes, presidente executivo do grupo ABC, é a hora e a vez da “Dona Maria”.

Como consequência, os gargalos aparecem, aos montes. “Tem o lado negativo, mas também o positivo, porque representa a entrada de novas pessoas”, analisa Fábio Barbosa, presidente do Grupo Santander, durante exposição sobre a nova classe média, no Fórum BID para o Desenvolvimento da Base da Pirâmide na América Latina e Caribe. E a necessidade de conseguir dialogar com este “novo consumidor” é premente. No caso do Santander, o investimento foi no microcrédito, programa cujo intuito é viabilizar micro empreendimentos. O projeto já impactou mais de 250 mil pessoas.

Barbosa citou também a abertura de uma agência no Complexo do Alemão, antes da chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), onde 70% dos colaborados são da comunidade. “Tem um número de empreendedores imenso lá”. Para o início, a parceria foi fundamental com o José Junior, do Afroreggae, argumentou. “Ouvir as bases é o segredo para tudo.” E Nizan completou: “Para uma nova demanda, uma nova teia de alianças”.

Para o publicitário, é preciso fugir dos velhos estigmas do passado. “Temos que criar coisas boas, adequadas e acessíveis. O grande problema das empresas é que elas ficam dando coisas que a gente não quer”, afirmou. De acordo com ele, as companhias áreas, com as suas tradicionais barras de cereais, e as imobiliárias, com os playgrounds ao invés de áreas de games e maior conectividade, ilustram a falta de entendimento das mudanças atuais.

Em contrapartida, a “Dona Maria” quer coisas novas, como ir à Europa e conhecer a Disney. E o consumo consciente, tão incentivado e necessário, não encontra muito espaço nesta seara. “Na minha vez de beijar você vem dizer que tem sapinho”, brincou sobre o momento vivido pela nova classe média, arrancando gargalhadas da plateia que lotava o auditório da Fecomercio.

Nizan também chamou a atenção para a nossa arrogância frente, ou costas, à América Latina. “Nós somos arrogantes, omissos com a América Latina. Nós estamos ficando insular com o nosso crescimento”, disse. Para ele, o empresariado deve começar a observar a AL, como faz o BID ao desenvolver programas para a região, como o Oportunidades para a Maioria, que acaba de sair da fase de projeto piloto.

Por Marcos Bonfim