“Stagecoach” – No Tempo das Diligências é um dos dez melhores filmes de faroeste de todos os tempos, sob a direção de John Ford. Adaptado do monumental conto de Guy de Maupassant, Bola de Sebo, talvez a mais instigante reflexão sobre a natureza humana. Tem muito a ver com os tempos que vivemos em nosso país. Só faltam os desfiladeiros e os apaches do filme.
Um dia nasceu a rede mundial de computadores. Originalmente, um privilégio exclusivo da comunidade científica mundial. Dia após dia foi sendo invadida pelas demais pessoas e converteu-se em patrimônio da humanidade. O mais importante dentre todos. Vivo, integrador, democrático, de acessibilidade plena e universal.
Todos os anos a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura divulgam uma relação de lugares e espaços culturais e naturais de excepcional valor para a humanidade. Lugares históricos e naturais traduzem a cultura e a natureza dos países e acabam por atrair a atenção dos mais de 7 bilhões de habitantes da Terra. São mais de 700 os patrimônios da humanidade. A www não se insere dentro desse entendimento, mas é, repito, e de longe, o maior patrimônio da humanidade.
Além de informações, de proximidades, de recados, de abraços e amores, fomos também aprendendo a comprar a distância. E o tal do comércio eletrônico converteu-se em realidade. Em poucos anos será a plataforma principal. Mais de 50% de todas as transações. E parte delas, de produtos que terão de ser entregues… num país, Brasil, de dimensões continentais.
Diferentemente de outros países continentais, vimos definhar a malha ferroviária construída no correr de um século, poluímos os rios e não cuidamos de nossas estradas. E, assim, a descomunal barreira que inibe o crescimento em maior velocidade do comércio eletrônico por aqui se chama logística e distribuição. Absurdamente agravada nos últimos dez anos devido a uma megapraga. O roubo de cargas. Mergulhando-nos numa espécie de No Tempo das Diligências, 100 anos depois.
Se não resolvermos urgentemente esse flagelo, o comércio eletrônico no Brasil será regional, seletivo, específico, tribal, deixando à margem milhões de pessoas físicas e jurídicas. Os números são devastadores. Segundo estudo divulgado pela MC2R Consultoria Estratégica, de 2010 a 2017, foram registrados 136.295 roubos de cargas, num valor total de R$ 8,7 bilhões. Apenas em 2017, foram mais de 25 mil roubos, num valor total superior a R$ 2 bilhões.
As maiores incidências ocorrem no Rio de Janeiro e em São Paulo. Dos 25 mil do ano passado, 21 mil nos estados do Rio e São Paulo e em idênticas proporções.
Segundo a MC2R, o roubo de cargas é um crime que afeta não apenas os transportadores e donos das cargas. “Toda a economia é afetada pelos efeitos em cadeia, que geram forte perda de competitividade devido à transferência dos custos extras para a sociedade através do preço final das mercadorias. Dependendo do tipo de mercadoria e a da região onde será comercializada, o acréscimo no preço final do produto pode ser de até 40% (caso de produtos farmacêuticos e eletrônicos).”
O roubo de cargas é, hoje, o maior entrave ao crescimento e penetração do comércio eletrônico no Brasil. Portanto, está mais que na hora de enfrentarmos com coragem e determinação, e nos livrarmos dessa praga que nos debilita, enfraquece, empobrece, inibe… Que nos condena, inexoravelmente, ao atraso.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)