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Apesar de o trânsito de São Paulo ter impedido Nizan Guanaes de pegar a tempo o avião para Buenos Aires, onde está acontecendo o El Ojo de Iberoamérica 2015, o sócio do Grupo ABC não decepcionou a plateia e mostrou energia em uma palestra feita por Skype.

O tema escolhido pelo publicitário brasileiro foi “a reconstrução do negócio da publicidade na América Latina”. Para Nizan, é importante que o mercado publicitário do continente comece a refletir mais profundamente sobre o modelo de remuneração das agências. “Não é possível que os clientes queiram cada vez mais comprometimento, modernidade e engajamento pagando menos. Os publicitários, principalmente os mais jovens, precisam se perguntar se estão sendo bem remunerados”, disse. “Uma propaganda que gera dinheiro para os outros e não gera dinheiro para a própria publicidade é estranho. Recuso ser escravo”.

Para o sócio do Grupo ABC, maior grupo brasileiro dono de agências de publicidade, o modelo de remuneração publicitária do país é um elemento que, segundo ele, tem regras claras e de proteção ao mercado que possibilitam uma maior qualidade de excelência em relação a mercado vizinhos. “Brasil e Japão são ilhas de prosperidade na propaganda porque criaram regras de proteção”, afirmou. “Se não houvesse essas regras no Brasil, nunca teríamos tido Marcello Serpa, Fabio Fernandes, Celso Loducca, Sergio Gordilho e Washington Olivetto”.

Para Nizan, as regras que regulamentam a remuneração no Brasil proporcionaram que os publicitários citados por eles tenham construído carreira no país em vez de buscar oportunidades em outras partes do mundo. “Se a América Latina é tão criativa e forma tantos talentos, por que é tão mal remunerada?”, provocou.

Antes de fazer a plateia levantar para fazer uma espécie de ritual em que todos repetiram várias vezes a frase puxada por Nizan “We love plata, we love plata” (que pode ser traduzida como ‘”nós amamos dinheiro”), o palestrante ainda deixou mais duas perguntas no ar. A primeira: quais são as agências financeiramente fortes na América Latina? E a segunda foi: a propaganda da América Latina tem a cara da América Latina ou estamos tentando fazer o que vemos em Amsterdã ou Londres?

Sem respostas, Nizan disse que seu propósito foi justamente aproveitar a audiência do El Ojo para provocar. “Não tenho as respostas. São questões importantes para refletir. Um festival tem que ser polêmico”, explicou antes de finalizar repetindo por última vez seu mantra. “Nós amamos plataformas, e também amamos ‘plata’. Amamos todas as platas”, brincou, em referência às plataformas digitais e à plata, que na tradução literal ao português significa dinheiro.