Outro dia entrei para um clube que entrega alimentos orgânicos. Passei a buscar semanalmente uma cesta de hortaliças na casa de uma amiga que se ofereceu para ser ponto de distribuição para os moradores do meu bairro. Volta e meia, quando chove muito, por exemplo, as cestas vêm incompletas. Faz parte do jogo. A missão de cada integrante do Clube é ajudar a fortalecer os pequenos produtores de frutas e legumes orgânicos. Portanto, é um laço na alegria e na tristeza. Também recentemente, resolvi participar do crowdfunding de amigos da ioga para produzir um banquinho de meditação, o Bankin – desmontável, simples e charmoso. Paguei um valor para o projeto decolar, e alguns meses depois lá estava a novidade na minha casa.
Tenho um amigo que vive no site kickstarter.com e, pelo menos antes de o dólar disparar, ajudou alguns projetos internacionais como o da garrafinha made in Austrália MemoBottle. Aos poucos, deixo de aplicar o meu dinheiro comprando faixas ou álbuns inteiros no iTunes para usar o Spotify, onde posso ouvir o que eu quiser por uma taxa fixa. Mesmo modelo do Netflix, que concorre seriamente cada vez mais com minha TV por assinatura, que vem subindo no telhado faz tempo. Quando viajo, não reservo mais o hotel. É mais legal alugar um apartamento via Airbnb.
Em cada um desses movimentos meus e de outras pessoas no mundo inteiro, há perdedores e vencedores. Na equação da oferta e da demanda há novas escolhas sendo feitas todos os dias, possibilitadas por um sopro de novidade na forma de fazer negócios e acessar as “coisas” que fazem parte da nossa vida. Participar dos processos produtivos daquilo que consome, por exemplo, dá – para muitos de nós – mais prazer e satisfação do que uma compra tradicional em um supermercado, por exemplo.
O Uber encaixa-se perfeitamente nessa “nova economia” regida pelas preferências dos clientes e não mais pelo que é conveniente para as empresas. Trata-se de um serviço movido unicamente pela satisfação dos clientes. Mesmo o amadorismo de muitos motoristas trabalha a favor deles: sem vícios ou maus hábitos de velhos taxistas, trazem como novidade atender como eles gostariam de ser atendidos. Quem vacila, está fora. Quem trabalha direito, fica no serviço e garante o seu ganha-pão. Em alguns países, o serviço já foi regulamentado.
Em outros, como o Brasil, não. Enfurecida, a concorrência protesta de maneira tosca e desorganizada. Age como os ludistas na Inglaterra do século 19, contrários aos avanços tecnológicos da Revolução Industrial, que protestavam contra a substituição da mão de obra humana por máquinas. Fizeram protestos e revoltas radicais, invadiram fábricas e quebraram máquinas e outros equipamentos que consideravam os responsáveis pelo desemprego e as péssimas condições de trabalho no período. Soa familiar? Quebrar máquinas, táxis ou combater avanços tecnológicos não nos deixa avançar. E não há mudança e evolução sem dor, sem deixar alguns corpos pelo caminho.
Nós já vimos isso na indústria fonográfica, temos visto na indústria do audiovisual e em diversos outros segmentos. Não adianta bater, espernear ou protestar. O mundo digital é uma espécie de Uber no nosso mercado, que alguns “taxistas” ainda insistem em combater, como um grande antagonista. Agências, produtoras e todos os fornecedores da indústria criativa podem escolher encarar o mundo digital como inimigo – e morrer gradativamente – ou como aliado, para evoluir, crescer e ampliar as possibilidades. E você? De que lado você está?