A nova geração de diretores de criação está assumindo suas funções em um cenário completamente diferente do que há cinco anos. A discussão sobre os desafios enfrentados por esses profissionais foi tema do painel “Sob nova direção de criação”, durante o Festival do Clube de Criação 2016. Participaram das discussões Fabio Mozeli (Diretor de Criação – Neogama – Mediador); Juliana Patera (Diretora de Criação Associada – Publicis Brasil); Romero Cavalcanti (Diretor de Criação – FCB Brasil); Marcelo Nogueira (Diretor de Criação – AlmapBBDO); Adriano Alarcon (Diretor de Criação – DM9DDB); Fabiano Pinel (Diretor de Criação – Africa).

Sair da criação e assumir uma função executiva como a de direção foi apontada pela maioria dos profissionais como uma transição desafiadora tanto para quem sobe dentro da mesma agência quanto para aqueles que são contratados em equipes completamente novas. Marcelo Nogueira, diretor de criação da AlmapBBDO, afirma que a nova função, que se torna mais burocrática, não pode contaminar a essência criativa. “É muito fácil ser movido pelas novas responsabilidades e se afastar do ambiente criativo. Você continua sendo a mesma coisa, mas agora passa a desenvolver projetos e mexer no trabalho dos outros, modificando a forma como usa a criatividade no dia a dia”, analisa.

Romero Cavalcanti, diretor de criação da FCB Brasil, declara que, ao passar por muitos chefes, é possível se tornar um bom líder. “Ao ter que avaliar o trabalho da sua equipe, não é necessário modificar algo para que aquilo também seja trabalho seu. É mais para dar o aval, para fazer sugestão, ou só para reconhecer que ficou muito bom. Antes eu era o pai da ideia, agora eu sou o avô. Estou numa posição mais tranquila, não tenho tanto medo e só fico dando pitaco na criação dos outros”.

Diretor de criação da DM9DDB, Adriano Alarcon, afirma que gosta da possibilidade de lutar pelas boas ideias. “Minhas brigas como diretor são maiores, porque aposto naquilo que vale realmente a pena. Por isso me sento com a galera e crio junto, acho que essa tem que ser a nossa liderança”. Cavalcanti concorda e vê nos processos a oportunidade de plantar sementes durante as reuniões que as duplas de criação podem colher lá na frente.

Os millenials compõem grande parte das equipes de criação das agências e esse ponto foi destacado por Juliana Patera, diretora de criação associada da Publicis Brasil. “É interessante porque essa geração quer crescer muito rápido, quer resultados de forma instantânea, e as vezes quer muita repercussão trabalhando e realizando muito pouco. Quando percebo que existem pessoas interessadas em crescer, em se concentrar, eu me apego a esses profissionais para caminharmos juntos”.

Há alguns anos, os criativos trabalhavam essencialmente para print e filme. Hoje, explica o mediador do debate Fabio Mozeli, diretor de criação da Neogama, o digital mudou a forma como as equipes pensam as campanhas, porque existe uma infinidade de conteúdos que, muitas vezes, são bem mais interessantes do que a propaganda. Os ‘haters’, pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critérios, amedrontam muitos criativos.

Juliana afirma que ao lançar uma campanha muito planejada por toda a equipe, as redes sociais da marca e da agência foram agredidas e sofreram ameaças de pessoas que estavam manifestando suas opiniões sobre o conteúdo. “Eu tenho pesadelos com os haters”, brinca.

Fabiano Pinel, diretor de criação da Africa, afirma que com as tecnologias, a TV e a internet passam a ter a mesma relação do cinema e do teatro. “No cinema, a resposta precisa ser verificada com os críticos, com o sucesso da bilheteria. No teatro, é instantâneo. Com as tecnologias, tudo é imediato, ninguém mais espera para ver as notícias no jornal da noite. A internet desperta os lados de quem não teria lado nenhum”, analisa.

Cavalcanti ressaltou que hoje mais do que nunca é importante ter quem lide com a gestão de crise. “Precisamos mudar a nossa cabeça de pensar e já desenvolver as possíveis interpretações e crises que aquela ideia pode gerar”, comenta.