Com o crescimento da importância da televisão como meio de comunicação no Brasil, as telenovelas da Rede Globo ganharam força no mercado brasileiro, principalmente depois da década dos 1970. Os investimentos aumentavam à medida que a audiência também subia. O impacto e a influência dessas produções também começavam a ganhar força. Além dos produtos promovidos, tanto nos intervalos comerciais como nos merchandisings, a novela passou a indicar comportamentos e a ditar moda, que era possível notar nas ruas, nas lojas, nos camelôs. A cor do batom ou do esmalte de tal personagem, a roupa e o vestido que outra usa, o corte de cabelo da mocinha, as roupas da atriz mais bonita, o carro do protagonista, a cidade que serve como cenário para a produção e até condutas dos personagens, tudo, logo é copiado ou vira assunto nas rodas de conversa dos telespectadores e muitos continuam sendo lembrado depois de muito anos.

Glória Pires, que interpreta Beatriz, personagem de “Babilônia”, atual novela das 21 horas, é hoje uma das mais copiadas

A personagem Júlia, da novela “Dancin’ Days”, vivida por Sônia Braga, em 1978, ainda permanece na memória de muitos telespectadores que acompanharam a trama ou viveram aquela época. As meias usadas por ela fizeram muito sucesso entre o público feminino. Eram peças de lurex, usadas com sandálias de tiras finas ou transparentes, que ressaltavam o brilho das listras coloridas. Outro personagem muito lembrado entre os brasileiros é a Viúva Porcina, interpretada por Regina Duarte, em “Roque Santeiro”, em 1985. Porcina popularizou o lenço de cabeça e as bijuterias de cores fortes. O jeito imponente ajudava na disputa de poder com Sinhozinho Malta, vivido por Lima Duarte. Mais recentemente, mas não menos comentada, a vilã Carminha (Adriana Esteves), de “Avenida Brasil”, exibida em 2012, fez muito sucesso entre os consumidores. A personagem acompanhou a tendência de bolsas grandes. Os acessórios e itens usados por ela sempre foram muito copiados. Carminha estava por dentro das maldades e da moda, popularizando também a requisitada calça flare em cores claras.

A delegada Helô (Giovanna Antonelli), da novela “Salve Jorge”, de 2012, foi outro destaque entre os telespectadores. A combinação do penteado megaondulado com uma camisa meia aberta e uma calça jeans de cintura alta com um cinto largo deu um ar sofisticado à personagem, que teve um dos looks mais pedidos nos salões de beleza e na Central de Atendimento da Globo.

 Helô (Giovanna Antonelli), em “Salve Jorge”; Júlia (Sônia Braga), em “Dancin´ Days”; Viúva Porcina (Regina Duarte), em “Roque Santeiro”; Carminha (Adriana Esteves), em “Avenida Brasil”

Atualmente no ar como uma das protagonistas da novela das 21h, “Babilônia”, a personagem de Glória Pires tem sido uma das mais copiadas. O corte de cabelo e o figurino têm sido comentado pelas telespectadoras da TV Globo. Os acessórios usados pela atriz lideraram as ligações para a Central de Atendimento ao Telespectador (CAT), segundo o relatório divulgado pela emissora. De acordo com o documento, o item mais procurado pelas telespectadoras é o esmalte usado pela atriz nos primeiros capítulos. No top de dez itens mais procurados, também aparecem a echarpe e dois batons usados durante os capítulos da novela. As novelas, definitivamente, caíram no gosto popular, mesmo com alguns índices apontando uma queda na audiência, o gênero permace como preferido dos brasileiros. As narrativas seguem um padrão comum, com alta frequência de conflitos amorosos e familiares em seu núcleo principal. O drama também está sempre presente, assim como traições, reviravoltas previsíveis e a história de um herói contra um vilão.

As líderes de audiência

A história das novelas globais se confunde com a própria história da emissora. No dia em que entrou no ar, 26 de abril de 1965, a Globo estreou também seu primeiro folhetim: “Ilusões Perdidas”, que, escrita por Enia Petri e dirigida por Líbero Miguel e Sérgio Britto, trazia Leila Diniz e Reginaldo Faria como par romântico. De lá para cá, não houve um ano sequer em que o canal tenha deixado de exibir alguma teledramaturgia.

Em 1985, estreava “Roque Santeiro”, a novela com maior audiência da emissora: a média foi de 67 pontos no Ibope. Escrita por Dias Gomes com coautoria de Aguinaldo Silva, a trama foi uma sátira à exploração política e comercial da fé popular e apresentava a cidade fictícia de Asa Branca, onde vivia Roque Santeiro (José Wilker), que supostamente operava milagres na região. Até hoje, personagens como Viúva Porcina (Regina Duarte), Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e Mocinha (Lucinha Lins) são lembrados pelo público. Não é para menos, já que formavam o principal núcleo romântico da história.

No segundo lugar do pódio  aparece “Tieta”, de 1989. A história é uma livre adaptação de “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, e tinha Betty Faria no papel principal. Mais uma vez Aguinaldo Silva aparece no topo, dividindo a autoria com Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. A média de audiência do folhetim foi de 63 pontos – um a mais que a terceira colocada, “O Salvador da Pátria”, também de 1989.

Neste importante ano para a história do Brasil, “O Salvador da Pátria” virou assunto político e precisou, inclusive, sofrer uma mudança em seu roteiro. A novela começa quando o homem mais poderoso da região, o deputado federal Severo Toledo Blanco (Francisco Cuoco) resolve abafar os boatos sobre o seu relacionamento extraconjugal com Marlene (Tássia Camargo). Para evitar suspeitas, ele decide casar a moça com Sassá Mutema (Lima Duarte), boia-fria que vive da colheita de laranjas. Aos poucos o personagem ganha poder e, na sinopse original, se tornaria o presidente da República.

Segundo informações do site Memória Globo (www.memoriaglobo.globo.com), devido às eleições presidenciais de 1989 o autor da trama, Lauro César Muniz, teria sofrido pressão de grupos partidários e resolvido mudar o rumo da história. A esquerda identificava Sassá Mutema com o então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores), e acusava o autor de mostrar o personagem com um perfil muito manipulável. A direita, por outro lado, via em Sassá uma propaganda subliminar que favorecia o candidato petista. A solução encontrada foi abrir mais espaço para uma trama sobre o narcotráfico, no lugar da política.

 

A última novela a atingir 60 pontos de audiência foi “Renascer”, em 1993. Já nos anos 2000, os destaques foram “Senhora do Destino”, de 2004, com 50 pontos; “América”, de 2005, com 49 pontos; e “Avenida Brasil”, de 2012, que atingiu 39 pontos.