Em um momento em que as empresas enfrentam o desafio de usar o seu poder de comunicação para ajudar os consumidores a lidar com as consequências do novo coronavírus (covid-19), alguns depoimentos chamam a atenção e dão o que falar nas redes sociais.

Entre os assuntos mais comentados do Twitter nesta semana, estão marcas como Havan, Madero, Giraffas e o publicitário Roberto Justus. Em vídeos, os executivos discursam suas posições sobre a atual situação do país e são duramente criticados por suas palavras. 

Porém, com o atual panorama econômico e a propagação da pandemia, qual a melhor forma de se posicionar? Segundo Roberta Machado, CEO da InPress Porter Novelli, estamos diante de um cenário completamente diferente de tudo que já passamos.

“Todos estamos cientes e preocupados com os prejuízos e os impactos econômicos que já estamos vivendo e que certamente vão se agravar. Todos os gestores de negócios precisam de fato estar debruçados agora buscando soluções. Mas a necessidade urgente é de acolhimento, de união em favor do controle e da reversão da pandemia. Temos visto uma série de iniciativas relevantes, de alto impacto, buscando suprir as necessidades mais imediatas que a situação impõe. Certamente é isso que o consumidor de uma marca quer, que as empresas se comprometam com um propósito maior num momento tão crítico”, revela Roberta. 

Já para Diego Sierra, sócio da Agência Guanabara, os consumidores esperam que as suas marcas favoritas se mobilizem para manter o emprego dos seus colaboradores e para criar ações que ajudem a atenuar os efeitos da crise. “As grandes marcas precisam entender que essa crise vai colocar todos os discursos das campanhas de marketing à prova. É o momento de mostrar coerência e solidariedade. Pode-se fazer desde promoções para tornar os produtos mais acessíveis – o que também estimula as vendas – até disponibilizar conteúdos gratuitos para ajudar os clientes a lidarem com os dias de quarentena”, diz.

O compromisso social é cada vez mais valorizado e desejado pelos consumidores. Uma crise reputacional impacta os negócios e resgatar a reputação de uma marca não será uma tarefa fácil. 

“Essa crise sem precedentes vai transformar todos os setores e pode transformar marcas em love brands ou hate brands. As empresas que não usarem o seu poder de comunicação para o bem ou que tomarem atitudes egoístas vão ser julgadas em tempo real pelo tribunal das redes sociais. E quando a vida voltar ao normal, isso vai gerar uma rejeição muito difícil de reverter. Por outro lado, as marcas que utilizarem a sua força para ajudar, como é o exemplo de muitas indústrias pelo mundo que estão produzindo álcool para doar para hospitais públicos, vão entrar para a história e isso vai ser lembrado por muitas gerações”, comenta Sierra.

Roberta finaliza reforçando que as marcas podem e devem usar seus ativos para impactar de forma positiva as pessoas e as comunidades neste período de pandemia. “São oportunidades, sim, de dar provas de seu compromisso maior com a sociedade. Oportunidades de criar e fortalecer os vínculos emocionais de confiança, empatia, estima e admiração, pilares da reputação de uma marca ou organização”.

Confira abaixo alguns trechos dos vídeos que circulam com os executivos 

Junior Durski, fundador do Madero, em vídeo que circula nas redes sociais

“Oi pessoal, estou passando aqui para dizer que sou totalmente contrário a esse ‘lockdown’ que estamos tendo no país. O Brasil não pode parar desta maneira. O Brasil não aguenta. Tem que ter trabalho, as pessoas têm que produzir e trabalhar. As consequências que teremos no futuro serão muito maiores do que as pessoas que irão morrer agora com o coronavírus. Vamos isolar os idosos e as pessoas que possuem problemas de saúde. É nossa obrigação. Mas não podemos parar por causa de cinco ou sete mil pessoas que vão morrer. Em 2018, morreram mais de 57 mil pessoas assassinadas no Brasil. Mais de seis mil pessoas morreram por desnutrição e fome no Brasil”, diz Junior Durski, fundador do Madero.  

Luciano Hung, fundador da Havan, manda recado nas redes sociais

“Se perderem o emprego podem demorar de cinco a dez anos para conseguir um novo emprego. Pra mim, Luciano é muito simples. Quando vi a situação ficar feia, cancelei os pedidos. Então, fechei as lojas e cancelei os pedidos de todos os meus fornecedores. Tenho dinheiro para pagar tudo e vai sobrar dinheiro no meu bolso. Ai, pego o que sobrar e vou para a praia. Talvez, tenha que mandar 22 mil colaboradores embora. Se isso acontecer, o rombo é de 120 mil pessoas que estão atrás desses colaboradores. O que estamos vendo neste país hoje é uma histeria que não deveria estar acontecendo. As pessoas que morreram na Itália tem idade média de 80 anos. Disse para o meu pessoal que se pegarmos a gripe não teremos problema. Pode ficar certo disso”, revela Luciano Hung, fundador da Havan. 

Alexandre Costa, CEO do Giraffas, faz uma série de questionamentos em vídeo

“O que a gente faz com as pessoas? Férias coletivas? Isso tem um período e estamos pagando o salário de qualquer forma. Imagine as pessoas sem trabalhar por 30, 60 e 90 dias e você tendo que arcar com a folha de pagamento sem ter faturamento? Você consegue se sustentar? Você que está em casa de boa, com medo de pegar o vírus, também não está com medo de perder o emprego? Será que a sua empresa tem condições de segurar o seu salário por este período? Este vídeo não é para trazer desespero e, sim, consciência do que estamos vivendo. O vírus vai ser tratado, mas qual o custo disso? Então, se mexe e tome as decisões mais duras que você precisa tomar. A hora é agora. Não fique paralisado vendo notícias. Se mexa”, ressalta Alexandre Costa, CEO do Giraffas.  

Roberto Justus dá sua posição sobre a atual situação do país

“Você vai ver a vida devastada da sociedade na hora do colapso econômico, dos pobres não terem o que comer, das empresas fecharem, desemprego em massa, não dá para comparar com um ‘virusinho’, que é uma ‘gripezinha’ para 90% das pessoas”, comenta o publicitário e apresentador Roberto Justus.