De alguma forma, em muitos setores de atividade, na falta de alternativas, empresários vão empurrando com a barriga na expectativa que a crise termine e tudo “volte ao normal”. Imagino que ainda não se deram conta de que o que vem mais adiante não é o normal. É o “new normal”. E, assim, em muitas empresas, com a queda monumental das receitas, a solução é hierarquizar as despesas e privilegiar as que não podem esperar – por exemplo, folha de pagamentos… Mais adiante, pagamento dos fornecedores, mais adiante aluguéis de toda a ordem, e no final da lista… Todos os impostos.

O outro lado da moeda, para preservar seus clientes e não agravar a crise, as empresas foram reduzindo o preço de seus produtos e serviços, até o limite do quanto custam. Quase que trabalhando com uma margem zero e preservando a equipe e fornecedores. Em muitas situações, isso não tem se revelado suficiente. Como é o caso das faculdades. Que depois de percorrerem todo esse caminho decidiram radicalizar. Além de reduzirem o preço das mensalidades, com poucos prejuízos ao conteúdo dos cursos, contando com a compreensão e apoio de professores e funcionários, agora, constatando que o vazamento de alunos continua e o ingresso de novos reduziu-se dramaticamente, decidiram rever a política de pagamentos e mensalidades.

A aposta é que essa crise de hoje se resolva nos próximos 24 meses. Cobram, portanto, mensalidades simbólicas nos dois primeiros anos, para se compensarem depois, nos dois últimos anos. Assim, diante de uma queda de quase 10% no volume de novos alunos, uma Estácio reduziu as primeiras mensalidades de muitos de seus cursos e durante alguns meses para
R$ 49,00. E aí vieram os vestibulares de 2018, as matrículas. 90% dos novos alunos optaram por essa alternativa, pelos R$ 49,00, mesmo sabendo que teriam aumentos substanciais nos períodos seguintes para compensar o desconto na entrada.

Em entrevista para o Valor, o presidente da Estácio, Pedro Thompson, justificou: “No ano passado vimos muitas instituições cobrando R$ 59,00 e, algumas, inclusive, isentando as primeiras mensalidades. Agora o valor é R$ 49,00”. Segundo Pedro, antecipando-se ao que provavelmente acontecerá, hoje a instituição trabalha com uma provisão de 15% sobre suas receitas, considerando a elevada probabilidade de um crescimento no número de desistências. Nas chamadas instituições da elite, classe A, as classes minguam, turmas não se formam e luzes são apagadas. Os moradores de Higienópolis, que se acostumaram ao barulho dos carros dos fins de tarde, a gritaria dos flanelinhas e as luzes feéricas da Faap, hoje encontram muita dificuldade em conviver com o som do silêncio e a escuridão das turmas e cursos cancelados.

É isso, amigos. A grande crise na educação ainda não se faz presente. Está a caminho e acelerando sua velocidade. Essa crise de hoje, que reduz ou bonifica as primeiras mensalidades é conjuntural. E que se atenuará, na medida em que a economia melhore e se recupere do furacão Dilma. A grande crise é a estrutural. Que varrerá do mapa todas as instituições de ensino tal como são hoje. Estáticas, inoperantes, conservadoras, medíocres, absolutamente obsoletas para um mundo vivo, líquido, em tempo real. Pessoas precisam ser capacitadas, não mais educadas. Capacitadas permanentemente, desde dois ou três anos de idade, até a véspera da partida. E definitivamente não é o atual modelo de educação, muito menos o das atuais instituições de ensino, que conseguirá vencer esse desafio, capacitando e qualificando seres humanos para a sobrevivência. E, mais diante, prosperidade.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)