Divulgação

Você não vai acreditar. Às vezes nem eu acredito. Mas eu tenho documentos e testemunhos que comprovam que o que você vai ler não tem um pingo de invenção.

Nem mesmo de exagero, o que é muito comum nestas malcuidadas crônicas que só a bondosa paciência dos leitores amigos aguenta toda semana.

Vou contar o que aconteceu com um estagiário que passarei a identificar de agora em diante pela delicada alcunha de O Babaca.

Vocês entenderão o porquê.

Vamos lá: numa dessas campanhas internas de estímulo para os jovens, ele ganhou uma viagem para o festival de Cannes.

Você vai me dizer: se ganhou uma viagem a Cannes não pode ser tão babaca assim.

Eu vos direi, no entanto, que brevemente você também vai considerá-lo um tremendo de um babaca. Fique só na escuta. Ou na leitura.

A caminho de Cannes, O Babaca passou três dias em Paris e conheceu uma linda francesinha da província que estava de férias na capital, hospedada na casa de uns parentes que moravam na mesma rua do hotel onde ele ficou, a meu conselho, na Rue de Saint Paul, onde um dia pretendo passar parte de minha velhice tomando o solzinho da tarde olhando quinquilharias nos antiquários.

E, nos dias que passou em Paris, O Babaca namorou a francesinha, uma façanha maravilhosa se partirmos do princípio que não havia entre eles uma língua em comum.

Assim mesmo, eles trocaram juras de amor e combinaram se encontrar na cidadezinha dela, para onde ele foi convidado a ir depois do Festival de Cannes.

O Babaca, além de conquistar o coração da moça, encantou também todos os parentes dela que moravam em Paris, a ponto de filar a boia o tempo todo.

Coisa raríssima em se tratando de parisienses.

Milhões de pessoas vão à França todo ano, como o Elísio Pires, por exemplo, e não conseguem um cafezinho de graça.

Nosso babaca comeu a menina, almoçou e jantou sem pagar e ainda por cima ganhou um up grade no trecho Paris-Marselha graças a uma antiga colega de escola da garota que trabalhava no escritório da Air France.

Nós todos, diretores de agência, voamos na classe turística. O Babaca foi de primeira.

Ao chegar em Cannes foi instalado num apartamento de frente, no Hotel Carlton, porque exatamente na hora que ele estava chegando, a recepção recebeu um fax com uma desistência.

Não tendo o que fazer com a enorme suíte, ofereceu ao Babaca, pelo mesmo preço de um quartinho de fundos que tinham reservado para ele.

E ele ficou lá. Indo a todas as festas durante o festival, tratado com todas as honras, graças a um monte de convites que eram enfiados embaixo da porta da suíte durante a noite.

Completamente babaca, ele nunca percebeu que os convites eram para o presidente mundial da Young & Rubicam, para quem haviam originariamente reservado o apartamento.

Mas, babaca é distraído.

Achou normalíssimo comer e beber de graça nos melhores, mais caros e sofisticados bares e restaurantes de Cannes e arredores. Para concluir.

Depois do festival, atendendo ao convite da família da sua namoradinha francesa, o Babaca viajou até a cidadezinha de sua namorada de Paris, Roanne.

E uma noite foi convidado para jantar num restaurantezinho da praça onde moravam os pais da menina.

Boa comida, segundo ele. Ele me deu a caixinha de fósforos do restaurante: Frères Troisgrois.

Ele achou maneiro. Morro de inveja dele.

Lula Vieira é sócio da Mesa Consultoria