Ganha um doce quem me responder qual foi o “produto” com maior depreciação mercadológica em 2015. Você respondeu política? Parabéns! Foi enxovalhada, pisoteada, sucateada e tantos mais verbetes pejorativos lhe ocorrerem pode acrescentar. Nada perdeu tanto valor em tão pouco tempo. Logo, ninguém precisa mais do socorro do marketing do que a política. Por outro lado, diante de tamanha crise econômica, diria que nunca o marketing precisou tanto da política.
Ano de eleição é sempre oportunidade de fazer um bom dinheiro extra. Só que o desafio desta vez vai muito além daquele trabalho convencional de tentar convencer que Fulano é melhor do que os outros. Difícil agora vai ser explicar por que, se Fulano é tão bom, ele está metido em política. Ou seja, antes de enaltecer Fulano temos de tirar a política do “volume morto”.
Para isso, pelo menos atendendo às necessidades nacionais, é preciso entender como foi que chegamos a essa situação e quem são os principais responsáveis por ela. Sem emocionalidade ideológica que, nesse caso, não serve para nada. Contribuíram decisivamente para colocar no rés do chão a percepção sobre política, sem dúvida, o Executivo, o Legislativo e a oposição.
Executivo e Legislativo, pelas práticas ilícitas sistemáticas, pela conduta errante na economia e pelo costumeiro cinismo nas explicações; oposição, pela prática continuada de uma guerra de terra arrasada: no objetivo de destruir o governo, não hesitou em destruir a política.
Fosse político, eu estaria bem desanimado. Por vários motivos. Suponho que esteja complicado arrecadar. Instalou-se a percepção de que todo e qualquer dinheiro aplicado numa campanha política é dinheiro suspeito. Em sua origem, em seu objetivo ou em ambos.
O preço que as empreiteiras, por exemplo, estão pagando, em termos de danos à imagem, por sua histórica compra de favores, através do financiamento de campanhas, equivale ao dos grandes traficantes de armas e de drogas, por exemplo. Não é pouca coisa. No entanto, a vida continua e, em termos práticos, os negócios da iniciativa privada com os governos vão continuar contando com a boa vontade dos políticos e do seu poder de influência.
O toma lá dá cá, ainda que mais cercado de cuidados, deve continuar. O que vai pesar mais agora é o critério do risco. Significa dizer que o político tem de valer a pena, de fato. Caso contrário, fica à míngua. Enfim, quem trabalhar com marketing político tem uma dupla missão: naturalmente, eleger seu candidato, mas estará também encarregado de tentar um upgrade na percepção sobre a política em si.
Talvez um bom começo seja esclarecer que Política (com P maiúsculo) não é o que o governo, o Legislativo e a oposição estão fazendo. E, necessariamente, evitar repetir campanhas como as anteriores, particularmente a última campanha presidencial, um primor de canalhice. Não tenho ideia de como se sai dessa enrascada. Admito, porém, que pode ser uma oportunidade valiosíssima para o marketing político deixar de ser notado como aquele irmãozinho que se “desviou” na família marketing.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing