Muitos setores estão sendo impactados diretamente pela epidemia do novo coronavírus. Mas, no caso do live marketing e MICE (Eventos, Incentivo, Conferências, Feiras e Exposições), a pancada é mais atordoadora.
Sabidamente, o primeiro bimestre do ano é muito fraco para esses setores e, agora, quando todo mundo estava se preparando para dinamizar seus negócios, vem essa paulada sem precedentes.
Ninguém sabe ao certo a extensão do ciclo de contaminação da Covid-19, mas, aparentemente, ela não é longa. Talvez um trimestre de perrengue total. Eventos de todos os portes sendo cancelados, provocando um efeito dominó que atinge por inteiro um setor capaz de mobilizar fortemente a economia e o emprego.
Estima-se em aproximadamente 25 milhões os empregos gerados direta ou indiretamente e uma movimentação econômica de R$ 936 bilhões, representando quase 13% do PIB. Nem todos os eventos foram cancelados definitivamente, alguns foram adiados e até já têm data para acontecer, sendo transferidos para o segundo semestre. E aí começa o dilema.
Muitos players desse extenso ecossistema terão muita dificuldade para sobreviver sem jobs para tocar. Podemos prever seis meses de penúria, o que pode ser fatal para agências, prestadores de serviços e outros stakeholders descapitalizados.
Passado esse momento de crise, é previsível que tenhamos um período bastante aquecido, no segundo semestre, com grande concentração de atividades e uma consequente retomada de negócios. Mas é preciso garantir sobrevivência a esses players até lá.
A exemplo do que vem acontecendo em outros países, esperamos que o governo se sensibilize e proteja essas empresas mais afetadas. No momento em que escrevo este artigo, um grupo de instituições, dentre elas a Ampro, liderado pela ForEventos, construiu um pleito, reivindicando crédito em condições especiais, isenções temporárias de impostos e flexibilização de contratos de trabalho, entre outras solicitações. Minha torcida é que, no momento em que você estiver lendo este artigo, o pleito já tenha sido aceito porque o tempo urge! E as decisões a serem tomadas podem se constituir em remédio forte demais, com efeitos colaterais perigosos.
Se as empresas optarem por demitir fortemente, terão dificuldade em se estruturar novamente, no momento em que o mercado reaquecer, o que – esperamos – deve acontecer no segundo semestre.
Por outro lado, ignorar os efeitos da crise pode causar quebradeira no setor, gerando um tsunami de destruição econômica sem precedentes.
O momento é de serenidade e espírito de união, abrindo espaço para discussões entre todos os stakeholders, evitando um jogo ganha-perde. Os cancelamentos de eventos geram discussões jurídicas. Por exemplo, o espaço locado para o evento pode exigir pagamento integral, sem flexibilização.
Mas pode também gerar crédito para a realização em outro período. As agências podem ter garantidos os seus fees, como pagamento para ações adiadas.
O mesmo pode acontecer com fornecedores. O melhor mesmo, em vez de simplesmente cancelar, seria adiar e já definir data para a realização futura. A visão de que estamos todos num mesmo barco, no meio de um mar revolto, é de vital importância.
O que é certo é que estamos todos perante um quadro desconhecido e desafiador de uma epidemia que assusta o mundo todo, com reflexos inéditos na economia.
É bacana ver grupos serem formados
para compartilhar ideias e vislumbrar formas de, não só superar essa crise, mas também já pensar na retomada, que virá com certeza. É muito bom também perceber que empresas mais conscienciosas, que demonstram preocupação com a saudabilidade e a sustentabilidade de seus parceiros, estão dispostas a analisar soluções de menor impacto.
Mais do que nunca, o momento exige união e serenidade. Porque o novo coronavírus vai passar e podemos sair mais fortes dessa crise.
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)