Lembram-se dessa frase: “O futuro a Deus pertence”?
Valia tanto para os crentes como para os agnósticos. A partir de um determinado ponto, e diante das pessoas, empresas, organizações terem esgotado todas as possibilidades, crentes entregam a Deus, e os agnósticos à sorte e à fortuna. E aí veio a pandemia. Superado o pior momento, todos os dias em todas as publicações supostos especialistas que se sentem à vontade para dizer como será o futuro.
Sobre alguns comportamentos e manifestações é possível formular-se hipóteses. Sobre todos os demais, especulações precárias, pretenciosas, arrogantes e, acima de tudo, burras. Que ninguém conclua o que quer que seja por enquanto.
Todos os novos comportamentos e manifestações decorrentes da crise precisarão de um ou dois anos, para conferirmos se vieram pra ficar, ou são apenas resíduos que o tempo elimina. Só depois de superada definitivamente a crise, para comprovarem-se suas eventuais e possíveis consistências. Se vieram para ficar, ou foram apenas brisas de verão, ou soluços de uma cruel pandemia.
Mas, desocupados de todo o gênero desenvolvem as teorias mais irrelevantes possíveis, e desprovidas de qualquer grau de consistência. Tipo, por decorrência e do que afirmam com a convicção dos medíocres, a morte dos carrinhos dos supermercados…
No último fim de semana, li as tais das Novas Certezas sobre tudo e todos. Coisas do tipo: “Novos produtos sem toque é o must daqui para frente…”. Meu Deus, tudo o que queremos e fazemos naturalmente é tocar, pegar nas coisas, nas pessoas, na vida, e agora teremos de comprar todos os produtos apenas olhando: de perto e de longe? Ou, “Provadores virtuais”. Socorro! Simulação de provadores no digital, um horror, mas ok.
Nas lojas, qual o sentido de se ir a uma loja se não pode tocar o produto, provar o sapato ou o vestido, sentir o cheiro do perfume… Nessa linha patética de raciocínio, muito brevemente, essas mesmas pessoas que preveem e advogam essa estupidez nos recomendarão visitar os restaurantes apenas para olhar as comidas, e irmos aos supermercados só para matar a saudade dos tempos em que víamos, mas podíamos pegar e colocar no carrinho os produtos das gôndolas.
“O fim dos carrinhos!” Ou, e ainda, que “Lojas vão se converter em minicentros ou terminais de distribuição”. Esquece, provisoriamente, diante da fragilidade dos Correios, as lojas aproveitam algum espaço vazio para quebrar esse galho, mas, quem comprar a distância, vai querer receber seus produtos em casa, e quem comprar presencialmente, compra e leva consigo na sacola ou sacos, ou recebe em casa dias depois como são nas compras de uma geladeira, fogão, televisores e assemelhados. Loja é loja, e terminais de entrega são serviços completamente diferentes e antagônicos.
Ou, “agora as pessoas vão trabalhar nas lojas…”, parece que não ouvi ou li direito… É isso mesmo, está em matéria no Estadão, “Além de oferecer a oportunidade para o consumidor experimentar produtos, a loja física também pode ser um local para o cliente ter acesso a serviços, como conserto de bicicleta, ou espaço de trabalho com internet ultrarrápida disponível…”. Talvez fosse melhor trabalhar nas árvores, nos galhos mais altos… E de lá se atirar, matando-se, por uma vida tão inútil e absurda…
Sem comentários. Pior que a pandemia da Covid-19 é a pandemia de estultices e ignorância para a qual nem existe e nada se faz para uma vacina urgente. Para ontem.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)