Um acontecimento de transformação global e geracional foi necessário para entender que a liderança humana e a consciência das organizações em relação à felicidade de seus colaboradores não são um tabu, mas sim combustível para propósito, missão e, principalmente, resultado.
Ao longo de toda a minha carreira, segui intuitivamente essa visão e testemunhei os efeitos. Sou um life adventurer e acho que mais do que falar de carreira, sucessos e insucessos, precisamos falar da vida e do que nos faz humanos, porque isso é autenticidade.
Durante muito tempo as pessoas separavam o pessoal do profissional, reforçando a ideia de que o que acontece da porta do escritório para fora é outro problema.
Mas não existe isso. Somos uma intersecção de vida pessoal e trabalho, um não funciona sem o outro e, enquanto líder, é preciso ser empático com as necessidades e particularidades de cada um.
A pandemia nos fez observar as pessoas para além do profissional, com uma atenção especial à saúde mental e física, inclusive, dos familiares de quem trabalha conosco.
Em meus momentos de fragilidade, questões, dúvidas, anseios, ansiedade etc., divido abertamente o que sinto.
Muitas vezes me questionei se eu, como CEO, não estava me abrindo demais. Li então o livro Discover your true north, de Bill George e Peter Eagle Sims, que discute muito a questão de lideranças autênticas, por valor, e me deu até uma paz de espírito. E foi o que sempre fiz. A verdade é que a vida é muito efêmera, frágil. Dois anos atrás passei por um acidente estúpido, que gerou uma fratura de crânio e me rendeu quatro cirurgias. Hoje, mais do que nunca, sou autêntico e radical com relação aos meus valores.
A honestidade com nós mesmos e com os outros não é enfeite. É valor agregado, é a essência do que somos.
O segredo da estabilidade de um líder está aí. Muito além de dividir os percalços no meio do caminho, a autenticidade na liderança constrói um believe system que é fundamental.
Os valores dos colaboradores precisam estar muito alinhados com a organização e o líder tem papel crucial nesse engajamento. As pessoas se alimentam de energia, motivação e propósito.
E quanto mais autêntica é a liderança, mais as pessoas sentem liberdade para se expressar, respeitando sua identidade, valores e personalidade.
Acredito que liderar autenticamente é fazer com que o outro confie em você, e quanto mais humanidade há na liderança, mais transparência e confiança há no time. Uso meus erros para aprender e faço questão de falar abertamente com a equipe, a fim de mostrar a realidade, que nem tudo são flores. Dessa forma, construímos, a cada dia, uma relação de confiança mútua. E eu, que já cometi muitos erros, ajo hoje com equilíbrio, seguindo o coração e a razão.
Em constante processo de aprendizado, compreendo que propósito conduzido com humanidade, autodisciplina, valores sólidos e conexão autêntica com as pessoas é poderoso.
Nada é por acaso e a conexão de nossa mente e coração é o elemento mais poderoso de nossa condição humana.
Quando nossos dois órgãos sensoriais mais importantes, cérebro e coração, trabalham em conjunto, isso empurra nossos limites e a nossa condição humana.
Ambos unem culturas e impulsionam nossa capacidade de sonhar com uma grande e ilimitada resiliência.
É orientar-se não somente com estratégia, mas com sensibilidade, íntegros e autênticos com nossa humanidade.
No final das contas, integridade é viver de acordo com os seus valores e princípios, mesmo em momentos de muita pressão.
José Papa Neto é CEO e sócio da multiplataforma de cultura afrourbana Trace Brasil e já esteve à frente da Cannes Lions e da WGSN Global