Alan Gripp, diretor de redação do Globo: “Digital puxa a liderança” (Marcelo Theobald)

No domingo, dia 19 abril de 2020, a capa do jornal O Globo estampava a reportagem Heróis da resistência. Levados à exaustão, profissionais de uma UTI para pacientes graves de Covid-19 foram acompanhados pela equipe de reportagem da publicação, que segue denunciando o agravamento da pandemia. Um ano depois, o Brasil se transformou no epicentro mundial da doença, com mais de três mil mortes diárias e um programa de vacinação incapaz de acompanhar o ritmo de contágio.

“Em abril do ano passado, alcançamos 82 milhões de usuários únicos com conteúdos que explicavam desde questões elementares até aspectos científicos”, recorda Alan Gripp, diretor de redação do Globo. O jornal viu a sua credibilidade crescer na mesma medida em que as fake news se proliferaram. “A valorização de conteúdos de checagem ficou evidente durante a pandemia”, pontua Gripp. A confiança reflete a transformação da cultura do Globo, que passou a oferecer conteúdos conforme o padrão de navegação dos leitores nas mais diversas plataformas.

Ao aprofundar o conhecimento de sua audiência, o jornal percebeu a necessidade de falar com todo o Brasil. Apesar de carioca da gema, O Globo agora é um “jornal nacional”. O novo posicionamento está na campanha criada pela BETC Havas, que mostra a evolução do diário mais lido “independentemente de onde o leitor esteja geograficamente”, comenta Erh Ray, CEO e CCO da agência. A mudança não só puxou a monetização como busca transformar o leitor digital na principal fonte de receita da publicação. “O número de assinantes cresce entre 30% e 40% desde 2017”, calcula Gripp.

Segundo a Comscore, o jornal registrou uma média de 28,8 milhões de visitantes únicos por mês em 2020, encabeçando a audiência digital do setor, seguida por Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Dados do indicador Clickstream TGI também confirmam a dianteira. Uma em cada cinco pessoas lê o veículo em sua edição digital ou impressa.

Entre aqueles que têm o hábito de se informar por jornais, um em cada três consome o veículo, que alcança 35,4% desses leitores, considerando um universo de 89,4 milhões de indivíduos. Já o Instituto Verificador de Comunicação (IVC) aponta que as assinaturas digitais cresceram 31%. Combinadas com as assinaturas impressas, as versões digitais ajudaram a alçar a marca à liderança em 20 dos 27 estados brasileiros.

Multiplataforma
O furo e a entrevista exclusiva estão no digital. A análise aprofundada e o ensaio de moda, no impresso. Daniela Tófoli, diretora da Editora Globo, vai além. “O digital permite chegar a milhões de leitores e o modelo de negócios precisou se adequar. Não faz mais sentido oferecer apenas uma página impressa de anúncio aos clientes”, adverte. Capas estereotipadas também não ajudam mais a vender revistas. “O leitor quer diversidade. Por isso, temos não só capas plurais, mas times de colunistas em todas as nossas marcas que trazem um olhar diverso”, esclarece Daniela.

Daniela Tófoli, diretora da Editora Globo: “Leitor quer diversidade” (Divulgação)

Segundo a executiva, a Editora Globo oferece uma solução de comunicação multiplataforma ao anunciante, que integra site, rede social, evento, impresso, newsletter, podcast e vídeo, entre outros formatos. Enquanto os conteúdos editorial e de publicidade se complementam, na outra ponta do negócio há o leitor, “que vem amadurecendo ao longo dos anos quando o assunto é pagar pelo conteúdo digital”, acredita Daniela.

Ferramentas de audiência, pesquisa e trends ajudam a entender os desejos dos leitores, que, ainda, sugerem pautas e comentam reportagens pelas redes sociais. A construção de conteúdo é coletiva. Curadoria, credibilidade e novas discussões são os principais papéis dos jornalistas. “Alguns temas, ainda que não tão populares entre os leitores, precisam ser abordados. A audiência nos mostra qual caminho seguir, mas não determina totalmente o rumo da produção”, explica Daniela.

Hoje, a editora Globo possui 13 títulos. Marie Claire, Crescer, Casa e Jardim, Monet, PEGN, AutoEsporte, Globo Rural, Época Negócios e Época estão no digital e no impresso. TechTudo, Quem, Galileu e o hub de sustentabilidade Um Só Planeta estão presentes exclusivamente no digital.