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Judith de Brito, diretora superintendente do Grupo Folha, afirma que teve sorte. Segundo ela, a área em que trabalha é mais aberta e sem preconceitos. Ela afirma que teve as mesmas oportunidades dadas aos homens na empresa em que trabalha, e o que não conseguiu atribui às próprias limitações, e não à discriminação. Mas reconhece que muitas mulheres sofrem preconceito dentro das empresas. “O ideal é que, no futuro, nem lembremos mais da questão de gênero, que pessoas sejam avaliadas somente por seus atributos profissionais”. Veja a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu ao PROPMARK.

Começo
As coisas foram acontecendo em minha vida profissional, sem muito planejamento. Tive sorte de trabalhar com pessoas inteligentes em ambientes favoráveis. Na faculdade, me encantei com ciência política, e resolvi me dedicar à vida acadêmica (fiz mestrado, trabalhava com pesquisa e dava aulas na GV). Mas, na crise dos 30, joguei tudo para o alto e fui para a vida em empresa – o Grupo Folha. Não me arrependo: pude crescer e aprender muito aqui. Nunca faltam novidades e desafios, gosto muito disso.

Ascensão
Sei que, em geral, as mulheres têm dificuldades em ascender, mas tive muita sorte: trabalhei na área acadêmica e trabalho em grupo empresarial com atividade predominantemente jornalística, onde o ambiente é muito mais aberto e sem preconceitos. Além disso, fui “treinada” na infância: cresci em meio a seis irmãos (minha única irmã nasceu quando eu já tinha 10 anos). Eles nunca foram machistas, e eu me sentia igual a eles. Até hoje é assim: somos um grupo e, entre eles, tanto faz meu gênero.

Igualdade
Não temos incentivos específicos para mulheres na empresa. Mulheres e homens estão igualmente no jogo. Se uma mulher for a melhor candidata, será a escolhida em processos seletivos admissionais ou em processos internos que incluem promoções. Em muitas atividades mais “tradicionais”, onde ainda persiste a visão machista, acho importante os incentivos, como estímulo para se chegar à igualdade. O ideal é que, no futuro, nem lembremos mais da questão de gênero, e que pessoas sejam avaliadas somente por seus atributos profissionais.

Feminismo
Na prática, sou feminista, sim. Simplesmente faço o que acho que devo fazer, sem me preocupar se é “adequado” ou não pelo fato de eu ser mulher. Tenho muitas mulheres em minhas equipes de trabalho, e garanto a elas oportunidades iguais (em relação aos homens do time).

Equilibrista
Ah, não é fácil manter tantos pratinhos rodando. Tenho dois filhos, um com 36 anos
e outro com 16. Senti muita culpa por não poder ficar mais tempo com eles para trabalhar e, às vezes, por não poder ficar até o final em uma reunião importante para ir à apresentação do filho no teatro da escola. Escrevi o livrinho Mãe é mãe (Publifolha, 2005) sobre essas e outras experiências da maternidade e trabalho. Mas acredito que faria tudo igual – e cometeria todos os (muitos) erros que cometi, porque aprendi com eles.

Futuro
Tenho dois netos, o Felipe (3 anos) e o Leonel (10 meses). Eles já estão vendo um ambiente muito diferente do de gerações passadas: um pai (meu filho João) que divide com a parceira os cuidados com os filhos. E esse comportamento não é exclusivo do João: seus amigos que têm filhos procedem da mesma forma. Já tive oportunidade de receber em casa os amigos do João e seus filhos, e vi uma cena inédita: os jovens pais com bebês no colo falando de fraldas e comidinhas, enquanto o grupo das mães ao lado falava de… trabalho! Tive um pai maravilhoso, mas ele não entrava nos detalhes da criação dos filhos. Isso era “coisa de mãe”. Então, desde já, sei que meus netos crescerão vendo mais igualdade entre homens e mulheres.