“Jingle é a alma do negócio” é o livro recém-lançado pela editora Panda Books, que revela o processo de criação de 190 músicas eternizadas na história da publicidade brasileira. O autor, Fábio Barbosa Dias, é publicitário e iniciou sua carreira criando jingles, e hoje é professor universitário. Foram anos de pesquisa e uma série de 37 entrevistas. O autor esmiúça os mais importantes jingles dos últimos 70 anos, trazendo histórias, curiosidades e os contextos em que foram criados. 

Um extenso capítulo é dedicado a breves biografias de grandes jinglistas brasileiros, como Maugeri Neto, que criou a marcha “A taça do mundo é nossa” em homenagem à Seleção Brasileira de 1958, e José Luiz “Zelão” Nammur, autor de cerca de seis mil jingles ao longo de sua carreira. Inclusive compositores populares como Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix, que também eram jinglistas. O primeiro foi responsável pelo jingle da Caixa Econômica Federal que eternizou o slogan “Vem pra Caixa você também” e o segundo, pela clássica peça de outra instituição financeira: “Quem disse que não dá…?” (Fininvest).  Bati um papo com ele sobre o livro, confira.

Como nasceu seu interesse por jingles?

 Fábio Dias – Na adolescência eu era músico amador e um amigo que tocava comigo, ao voltar das férias, trouxe várias fitas com jingles produzidos pela McCann-Erickson, agência onde seu pai era vice chairman nos Estados Unidos. Ouvindo as peças percebi o quanto já gostava de jingles e descobri o que eu queria fazer profissionalmente. Fiz vestibular, entrei na ESPM e logo no primeiro semestre de curso consegui um estágio na Cardan, uma das mais importantes produtoras de áudio naquela época. O estágio era de um mês e acabei ficando quase dois anos, um período em que aprendi muito e percebi que nunca seria um músico do nível dos talentos com que eu convivia lá, mas percebi também que tinha grande facilidade para escrever spots, letras de jingles e sintetizar conceitos nos mais diferentes tipos de texto. Acabei me tornando redator e fui trabalhar na agência do Sérgio Graciotti, porém sem nunca abandonar a paixão pelos jingles. Tanto é que na própria ESPM participei de diversos levantamentos e pesquisas que resultaram na série de CDs Jingles Inesquecíveis lançados pela própria Escola e, posteriormente, pelo jornal Meio e Mensagem. Essas pesquisas me ajudaram muito na formação do meu acervo de jingles.

Qual a sua visão do poder do rádio e dos jingles nos dias de hoje?

 Fábio – Eu penso que o rádio talvez tenha sido o meio de comunicação que menos sofreu com a expansão das novas plataformas oferecidas pela internet. Justamente por não obrigar a pessoa a ficar olhando para ele, como no caso da TV, o rádio continua sendo o companheiro de trabalho do operário, da dona de casa, de quem está no trânsito, do adolescente que ouve pelo celular e até mesmo de quem está trabalhando no escritório que pode escolher e ouvir a emissora do país que quiser pela web. E nesse sentido, a internet ajudou muito o rádio a se “reinventar” ou melhor dizendo “reexistir”. De certa maneira, o mesmo se dá com os jingles. Eles continuam sendo uma das formas mais eficazes de fixar uma marca ou conceito na mente do consumidor, gerando uma simpatia espontânea (quando bem construídos) e muitas vezes passando a fazer parte da trilha sonora da vida das pessoas, ganhando um lugar cativo na memória afetiva de cada um. Ninguém acorda com um anúncio de jornal, um comercial de TV, um outdoor ou post de Facebook na cabeça, mas muitas vezes acorda com o refrão de um jingle, que pode ter sido ouvido no dia anterior ou há 20 anos. Existe recall e poder maior que este?

Como foi o processo de produção do livro – quanto tempo levou, quantas entrevistas fez, que critério usou para escolher a lista de jingles?

Fábio – A ideia de escrever esse livro surgiu em 2004. Desde então, busquei material, fiz contatos com profissionais, pesquisei histórias e escrevi capítulos de maneira esparsa. A partir de julho de 2015, quando surgiu o convite da Panda Books para publicá-lo, percebi que já havia bastante material e pouca ação. A partir daí foram 6 meses de entrevistas, mais 5 meses escrevendo diariamente. No total foram 37 entrevistas com criadores de jingles e, no caso dos já falecidos, com os seus familiares. Os jingles foram selecionados seguindo três critérios: a importância histórica na publicidade brasileira, a importância que ocupam na memória afetiva das pessoas e a qualidade criativa (melódica e/ou lírica). O mais interessante é que a grande maioria dos jingles escolhidos preenche totalmente os três critérios.

O que tem, afinal de contas, um bom jingle para funcionar, para se destacar?

 Fábio – Infelizmente não existe uma receita para se fazer um bom jingle. Existem jingles espetaculares que não têm nenhuma rima (Chevrolet – Zé Rodrix). Existem jingles sensacionais que não têm refrão (Pizza com Guaraná – César Brunetti, Maurício Novaes, Sérgio Campanelli e Sérgio Mineiro). Existem jingles cuja letra é simplesmente a repetição do nome do produto sete, oito vezes e que são geniais (Soda Limonada Antarctica – Sérgio Mineiro, Márcio Werneck Muniz, Crispin Del Cistia e Sérgio Campanelli). E existem jingles terríveis com tudo o que manda o figurino: rima, refrão e repetindo o nome do produto anunciado inúmeras vezes.

Evidentemente, um refrão forte, como rimas fáceis, ajuda demais a transformar o jingle em um “chiclete de ouvido”. Mas isso não é obrigatório. Definitivamente fazer jingle não é para qualquer um.

Quais os 5 jingles de maior sucesso de todos os tempos, na sua opinião?

 Fábio – Ao invés de escolher 5 prefiro fazer um Top 10 em ordem cronológica. Vamos lá:

1 – Cobertores Parahyba (Erlon Chaves, Mario Fanucchi)

2 – Varig – Estrela brasileira (Caetano Zamma)

3 – Casas Pernambucanas – Quem Bate? (Heitor Carillo)

4 – Banco Nacional – Natal – Quero ver você não chorar (Edison Borges de Abrantes)

5 – Café Seleto (Archimedes Messina)

6 – Vasp – Viaje bem, viaje Vasp (Theo de Barros)

7 – Chevrolet (Zé Rodrix)

8 – Estrelas da Estrela (Luiz Orquestra)

9 – Pizza com Guaraná (César Brunetti, Maurício Novaes, Sérgio Campanelli e Sérgio Mineiro)

10 – Pipoca com Guaraná (César Brunetti, Maurício Novaes, Sérgio Campanelli e Sérgio Mineiro)

 Bonus tracks: Pepsi – Só tem amor quem tem amor pra dar (Sá & Guarabyra), Duchas Corona (Francis Monteiro), Campari (Edgard Gianullo) e Brahma Chopp (Sérgio Augusto Sarapo, Claudio Carillo).

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