Uma das maiores justificativas de um país ou uma cidade para se candidatar a receber um evento do porte da Copa do Mundo ou da Olimpíada é o legado.

Num país em desenvolvimento, que carece enormemente de infraestrutura, essa justificativa é ainda mais exacerbada.

Transportemo-nos para o fim de 2006, quando o Brasil oficializa sua candidatura para sediar a Copa de 2014, ou para setembro de 2007, quando o Rio formalizou a sua para sediar a Olimpíada de 2016.

O Brasil vivia um exuberante boom econômico, era a grande estrela dos BRICs, com crescimento do PIB acima de 5%, expressiva geração de emprego, superávit comercial… Nós éramos “os caras”!

Receber as duas maiores competições esportivas do mundo representava a cereja do bolo, o carimbo definitivo de potência emergente. E também o catalisador do PAC, o tão sonhado programa de desenvolvimento estrutural brasileiro.

Era ou não era o momento perfeito para o Brasil se habilitar aos maiores eventos esportivos do mundo? Mas o tempo passou e quis o destino que os Jogos Olímpicos coincidissem com um momento diametralmente oposto ao existente em 2007.

O Brasil de hoje ocupa as manchetes para mostrar um lado muito diferente daquela época. E aí vieram as críticas.

Será que este era o momento de um país (ou uma cidade) com tantas dificuldades sediar a Olimpíada? Esquecem-se os críticos dessa cronologia da Olimpíada. Esquecem-se que a decisão tomada nove anos atrás baseou-se em outra realidade.

Mas vamos deixar de lado o passado e voltar ao presente. Eu poderia salientar as obras estruturais que o Rio ganhou graças ao efeito catalisador das Olimpíadas. Eu poderia citar a beleza da remodelação da Praça Mauá e da zona portuária do Rio. Ou das novas opções de transporte aceleradas por conta do evento.

Sim, este é um legado tangível, que os cariocas, depois de amargar um longo período de obras, e os estrangeiros, estão curtindo. Mas há um legado ainda mais importante. Um legado que, para mim, é o mais importante para a cidade-sede dos Jogos Olímpicos. Refiro-me ao legado de imagem.

Até o mais crítico há de se convencer que as imagens que bilhões de pessoas estão recebendo do nosso Rio de Janeiro são deslumbrantes.

Dando uma olhada na maratona aquática, vi imagens incríveis, sem igual, de um dia ensolarado, sobre um mar azul e sob um céu da mesma cor. Caraca!

Que estrangeiro não ficou minimamente encantado com essas imagens?! E a cerimônia de abertura – que foi o tema do meu artigo da semana passada, publicado aqui no PROPMARK… O que foi aquilo?!

Quanto custaria a mídia para atingir mais de 3 bilhões de pessoas (número estimado da audiência da abertura)?

Se levarmos em conta o tempo em que nossa cultura e o nosso Rio ficaram expostos, somente ao longo da cerimônia de abertura, seria algo realmente impagável.

Some-se a isso as generosas críticas dos principais veículos mundiais, que não cansam de destacar a simpatia do povo brasileiro e as nossas belezas naturais.

Uma escorregada aqui, um perrengue ali, isso acontece nas mais desenvolvidas e ricas cidades-sede de jogos desse tamanho.

Aconteceu em Londres e acontecerá em Tóquio, pode ter certeza. Como escrevo este artigo com boa antecedência, espero que, no momento em que você está acompanhando estas linhas, não tenha acontecido nenhuma catástrofe.

Se tudo continuar nesse ritmo, teremos, sim, a maior promoção turística que um país pode fazer. Por intermédio do Rio, o símbolo maior do nosso país, o Brasil se mostrará como uma nação que sofre, sim, um momento adverso da sua economia e da sua política, mas que é, sem dúvida, um dos países mais lindos do mundo, com uma gente mais linda ainda, pronta para receber estrangeiros que buscam algo mais do que estruturas certinhas e previsíveis. Esse é o nosso maior legado!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br