Semanas atrás, escrevi sobre o começo do Marcello Serpa, comigo na DPZ-Rio. Passaram-se os anos e o cara se tornou uma das personalidades mais celebradas da publicidade mundial. Fico me perguntando: será que ele tinha isso em mente desde o início? Essa carreira de ascensão avassaladora?

Por mais ambicioso que seja um profissional, acredito que ele estabeleça metas razoáveis a princípio. Com o correr do tempo, naturalmente as etapas vão sendo cumpridas e novas metas estabelecidas.

Não acredito que alguém saiba de antemão que vá chegar tão longe. Caso do Nizan, por exemplo. Será que Nizan sabia que ia se tornar dono de um dos maiores grupos de marketing e publicidade do mundo?

Lembro-me dele, em meados dos anos 1980, por conta de uma famosa campanha da Caixa Econômica Federal, com o Luiz Fernando Guimarães. Eu estava na DPZ, em São Paulo, e foi uma das raras ocasiões em que vi o Petit e o Washington festejarem um concorrente.

Quando resolvi aceitar o convite da velha MPM, a fim, digamos, de compensar certo constrangimento que gerei ao Roberto, ao negar-me a corresponder com alguma simpatia a um cumprimento do Zé Sarney, quem apareceu para a minha vaga foi aquele baianão feio, gordo e vestido de macumbeiro.

Afe, pensei comigo, isso não passa no crivo do Petit. Mas passou. Depois de seis meses na MPM, aceitei convite do Washington e fui para a DPZ-Rio. Era 1986 e Sarney havia congelado os preços por um ano e, por conta disso, praticamente ganhei um terreno em Cotia de presente.

Nem agradeci. No meio disso, o Washington sai da agência e se junta aos suíços. Na minha cabeça, aquilo era impossível. Washington fora da DPZ? Nunca. Mas era a pura verdade. Não só saiu como levou uma criação de primeira, com Nizan e Camilinha. Quando Nizan, depois de uma jornada cheia de prêmios, resolveu voltar para a Bahia, por conta do descaso com um operário que caiu de uma obra ao lado da agência e morreu, o Washington estava em Cannes e quem me chamou de volta para São Paulo foi o Javier Llusa.

Pagou meia mudança. Nunca vou esquecer. Só o Javier pagaria meia mudança. Nizan visitava a agência com frequência. Esbanjando energia e entusiasmo, falava de seus planos. Mas eram planos de um criativo, planos de fazer anúncios do cacete.

Um dia levou uma campanha para o Copacabana Palace pra gente ver. Brilhante. Tratava aquilo como um homem de negócios trata de seu patrimônio. Junto com o Marcello, o Washington, o Fabio Fernandes, o Ale Gama e outros, o Nizan construiu o seu negócio em cima de um produto criativo.

Mas fica a pergunta. Será que o Nizan e essa turma maravilhosa sabiam o que se tornariam, apenas apostando num bom título, num roteiro emocionante, numa foto surpreendente? Parece que sim.

E é muito bom saber disso e passar adiante. Afinal, uma nova geração de publicitários está convivendo com toda a sorte de especulações sobre o presente e o futuro da nossa profissão e do nosso negócio. Muitos devem estar atarantados sobre como proceder para vencer.

Apostando no Marcello, no Washington, no Nizan e em outros brilhantes criativos, eu diria: continuem perseguindo o melhor texto, o melhor layout, o melhor roteiro. Eles podiam não saber onde chegariam, mas sabiam como fazer o melhor texto, o melhor layout, o melhor roteiro.

E chegaram onde chegaram.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing