A semana que passou foi especial. Fui agraciada com o prêmio Comunique-se de jornalismo na categoria Propaganda e Marketing, esse fervilhante tema que desafia minha cachola e pulsa na pequena tela do meu laptop dia após dia, há mais de 20 anos. Devo dizer que foi sensacional constatar, na festa de entrega em São Paulo, que – apesar de alguns acontecimentos recentes bastante tristes envolvendo fechamentos e demissões – a autoestima do jornalismo está em dia.
A vibração das pessoas que subiram ao palco junto comigo na noite de 11 de setembro, uma terça-feira qualquer de muito trabalho para todos nós, foi revigorante. Gente experiente recebendo homenagens com gente muito jovem, pela primeira vez mais mulheres do que homens (e isso só é relevante, claro, porque historicamente sempre foram premiados mais homens do que mulheres), um tratamento de Oscar dado a uma categoria acostumada a levar mais porrada do que aplausos. Na festa que uniu grandes marcas (como Samsung, Edenred, Itaú e Vivo) e grandes jornalistas, deu uma quentura no peito ver o poder que tudo isso tem e, afinal de contas, é o que inspira diariamente o meu trabalho: a potência da conexão bem feita entre marcas e pessoas.
O que move não só o jornalismo, mas a comunicação em sua perspectiva mais ampla, é o poder da narrativa, das boas histórias, e eu aproveitei o que meu (parco) fôlego emocionado permitiu dizer, ao receber este que foi o terceiro troféu Comunique-se da minha carreira, que eu acredito em jornalismo com alma. Aquele que eu procuro fazer, no meu dia a dia, pensando em quem me lê, estabelecendo com ele (a) uma conversa olho no olho, sempre que possível, e oferecendo sempre a melhor história que me for possível contar. Porque nem sempre as circunstâncias ajudam: prazos, correria, fontes que não deram retorno. Mas o que vale é a busca de uma conexão que vá além do óbvio, que respeita quem se dá ao trabalho de ler o que eu escrevo. Inspirei-me bastante na entrevista que está bem aqui nesta edição do PROPMARK, com a editora da revista Vida Simples, Ana Holanda. Acompanho seu trabalho faz algum tempo, intrigada com a longevidade dessa pequena grande revista que é a Vida Simples, e acabei enfurnada em um de seus cursos sobre escrita afetuosa. Impressionou-me o poder da mensagem da Ana, e o fã-clube que a acompanha por todo o Brasil. Na entrevista para esta edição, ela fala daquilo que pode salvar o jornalismo da vala comum: a verdadeira conexão com as pessoas. A conexão, por exemplo, que vem de histórias fascinantes como a do morador de rua Fofão, da Augusta, contada por Chico Felitti, de BuzzFeed BR, que recebeu no Comunique-se o prêmio de melhor Repórter de Mídia Escrita. A internet pode ser, sim, espaço para reportagens aprofundadas e cheias de alma. É só uma tela luminosa, que convive com a porosidade familiar da folha de papel, que nossos dedos tocam há mais de 2000 anos.
Qualquer plataforma tem o poder de espalhar as boas histórias que contamos. A TV é o meio do Caco Barcellos, da Globo, premiado como Repórter de Mídia Falada. O rádio, um dos principais meios de Ricardo Boechat, o jornalista mais premiado da noite de terça, mencionado com entusiasmo pelo taxista que me levou ao aeroporto de Congonhas: “Ah, a senhora ganhou aquele prêmio que o Boechat também ganhou, né?” Boechat exerce sua profissão com alma, e fala ao pé do ouvido e ao coração das pessoas. Eliane Brum, do El País, premiada como melhor colunista de Opinião, disse certa vez: “Sou terra habitada, me sinto habitada por todas as pessoas que eu escutei, todas as pessoas que me honraram, abrindo a porta das suas casas e das suas vidas para me contar suas histórias”. Ouvi muitos jornalistas no palco, prêmios em punho, brilho nos olhos, confessando, quase se desculpando, serem “bichos da escrita”, exatamente como eu sou. Porque o mundo é da imagem, do vídeo, afinal de contas. Também. Narrativas bem construídas e autênticas sempre encontrarão olhos e ouvidos dispostos a lê-las, escutá-las, assisti-las. Contá-las é uma escolha de quem tomou para si a missão de ajudar a tornar este mundo um lugar melhor para se viver. Vale para jornalistas, escribas em geral, vale para marcas. E há melhor escolha, afinal de contas, do que essa, por aí?
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Paz, trabalho, seriedade e esperança