Álvaro Rodrigues, vice-presidente de criação e presidente da Africa Rio, pretende ser jurado criterioso e brigar pela melhor ideia e pelo melhor trabalho na categoria Outdoor do Festival de Criatividade de Cannes. Sua primeira experiência como jurado em Cannes foi em 2010, na categoria Radio, e este ano ele tem consciência de que o trabalho será ainda mais desafiador, pois, apesar de ser uma das categorias mais tradicionais do festival, é também a que mais tem se reinventado. “Hoje em dia, praticamente toda ideia pode ser inscrita em Outdoor, o que dificulta, e muito, o julgamento”, diz. Alvinho, como é conhecido, é fã do Festival de Cannes, que frequenta desde 1998, com o olhar curioso e sempre disposto a aprender mais sobre a profissão. Confira a seguir os principais trechos abordados por ele.
Cannes
“Cannes é o festival de publicidade mais importante, o mais prestigiado do mundo. Um festival que vem se reinventando ao longo dos anos para continuar sendo essa referência para a indústria da comunicação. Minha história com o festival começou em 1998, quando trabalhava na Giovanni FCB e fui eleito Young Creative (agora Young Lions) pelo Rio de Janeiro, junto com Andre Kassu e Rodrigo Mendonça. De 1998 até hoje, eu já fui diversas vezes para Cannes. Como delegado, como jurado (Radio, 2010), sempre como um curioso, querendo aprender mais sobre a nossa profissão.”
Prêmios
“O prêmio pelo prêmio é vazio e efêmero. Pensar no prêmio como uma chancela de qualidade do trabalho que você e sua agência fazem para o cliente é uma maneira de garantir que ele, o cliente, tem uma agência alinhada com o que de melhor está sendo produzido no mundo.”
Leões
“Cannes reúne os melhores trabalhos, os melhores projetos, as melhores ideias do mundo produzidas naquele ano. Ganhar um Leão é ter o seu trabalho emparelhado com o que foi feito de melhor no mundo. Isso é motivador, é desafiador. Saber como está o nível do seu trabalho frente ao que está sendo produzido pelos melhores criativos e agências do mundo faz com que você queira sempre exigir mais e mais do seu critério, da sua régua de excelência. Ganha você, ganha a agência e, melhor de tudo: ganha o cliente. O desejo de ganhar um Leão não muda, na minha opinião. Mesmo que você já tenha conquistado um ou cem Leões. Ganhei meu primeiro em 2008. Antes disso, tive vários trabalhos meus no shortlist expostos no Palais, que me encheram de orgulho, me deram a certeza de que o caminho estava certo, mas que acabaram não se convertendo em Leão.”
Ouro
“O primeiro Leão de Ouro foi no ano passado, com um dos trabalhos que mais me orgulham de ter cocriado: o ‘Ursinho Elo’, para o Hospital Amaral Carvalho. O Elo não só ganhou o Leão de Ouro, como tem conquistado reconhecimento e prêmios em todos os festivais do mundo.”
Frustração
“A sensação de sair do festival sabendo que não consegui ver todas as peças expostas, assistir a todas as boas palestras, estudar os cases e reencontrar amigos é, de certa forma, frustrante.”
Segunda vez
“Esta será a minha segunda vez como jurado em Cannes. Sem dúvida, é o júri que todo criativo sonha um dia em fazer parte. A minha primeira experiência foi em 2010, como jurado na categoria Radio. É uma experiência única na carreira. Networking. Troca de visões e experiências. Debates. Amizades. Inimizades. Mais debates. Pontos de vista diferentes. Culturas diferentes. Longas horas de trabalho. Pressão. Pressão por resultado para o Brasil. Cansaço. Orgulho. Uma experiência divertida que você sonha em repetir.”
Eu, jurado
“Gosto de ser jurado. É uma oportunidade de conhecer diferentes colegas de profissão, de outras partes do Brasil e do mundo. É também uma oportunidade de manter seu critério afiado, balanceado com os diferentes pontos de vista dos demais jurados que formam o júri. Como jurado sou criterioso, brigo pela melhor ideia, pelo melhor trabalho. Já estive em bons júris, com grandes profissionais e discussões de alto nível. Mas o júri de Cannes em 2010 foi especial. Fiz bons amigos, que mantenho contato até hoje. Ajudei o Brasil a conquistar o primeiro Leão de Ouro na categoria Radio. Aprendi muito.”
Outdoor
“Apesar de ser uma das categorias mais tradicionais do festival, ela é também a que mais tem se reinventado, que mais permite inovação. Hoje em dia, praticamente toda ideia pode ser inscrita em Outdoor, o que dificulta, e muito, o julgamento. Vale prêmio tudo o que for inovador, que trouxer um novo olhar para a categoria. Mas, acima de tudo, o que for realmente pertinente. O que é criativo em Outdoor, de certa forma, é o mesmo que em outras categorias e mídias. É conseguir encontrar uma forma nova de tornar relevante o que você precisa comunicar. Esse desafio é ainda maior em Outdoor, em que tudo – ou quase tudo – já foi feito.”
Brasil e Outdoor
“Outdoor e Print são duas das categorias de excelência do Brasil. Pela criatividade, pelo craft na direção de arte, pelo bom humor que temos ao contar histórias. O craft brasileiro é reconhecido e respeitado no mundo. Não é por acaso que todo ano o país conquista muitos Leões nessas áreas. É curioso ver jurados de outros países, de outros mercados, olharem para uma determinada peça e dizer como elogio: “Isso aqui é do Brasil, não?”. O Brasil conquistou dez Leões no ano passado em Outdoor. É tradicionalmente uma categoria em que o país vai bem. A primeira pressão está em cima do trabalho, que realmente precisa ser de excelência. A segunda está no jurado, sem dúvida.”
Expectativa
“Muitas peças inscritas na categoria são sinônimo de muito trabalho, de muito debate pela busca pelo melhor. Espero que o júri, no final, consiga apontar para o festival, para os delegados, para o mercado, o que de mais atual foi criado e produzido em Outdoor. Que esse extrato sirva como referência e aprendizado.”
Fantasmas
“Cannes mudou recentemente o nome do festival. Ele se define como um ‘Festival Internacional de Criatividade’. Na minha opinião, uma escolha muito acertada. Premiar e reconhecer a criatividade é também premiar um projeto beta, que ainda não tem grande escala, por exemplo. Mas que, a partir desse reconhecimento, pode receber mais investimentos e ganhar o mundo. O que hoje pode ser visto como um truque, amanhã pode virar uma nova mídia, que pode ser monetizada e gerar receita para agências e veículos. Acho antiga a discussão de ser ou não ser fantasma. Se foi veiculado, não é fantasma. E, para concorrer em Cannes, todas as peças precisam de um comprovante de veiculação.”
Festival e futuro
“O festival tem acompanhado a rápida evolução da nossa indústria. Antes, um profissional ia para Cannes ver o que é a vanguarda, o que tem sido feito de novo. Isso não mais acontece. Cannes é menos ver o novo e mais reconhecer o bom. É menos revelação e mais consagração. Os trabalhos já chegam a Cannes muito divulgados, com forte trabalho de PR. As novas categorias, os festivais dentro do festival, as palestras e o conteúdo cada vez mais disputado mostram que Cannes continua olhando para o futuro.”
Brasil em Cannes
“Há categorias ainda novas para o nosso mercado, que cresceu e virou uma referência mundial, mas não é tão maduro como o americano, por exemplo. Natural também que ele comece a evoluir e performar também nessas categorias. O Brasil é um dos países mais criativos do mundo. Isso é um fato. As agências brasileiras têm disputado e conquistado o
título de Agência do Ano em Cannes. A alta performance do país tem um valor absurdo. Não só em Press ou Outdoor, mas em Cyber, Mobile, Direct e Design. Eu tenho visto trabalhos brasileiros que dentro em breve também vão conquistar Leões em Innovation, por exemplo.”