O país está sendo levado de roldão nessa questão do novo coronavírus, por várias visíveis razões: primeiro, porque a praga é altamente perigosa e letal e pouco sabem os profissionais da ciência lidar com ela. É uma realidade arrasadora, que se multiplica velozmente e pouca chance tem nos dado para melhor compreendê-la.
Para aumentar a nossa infelicidade, tem servido de guerra política entre facções partidárias do país, cuja maioria teve de engolir Jair Bolsonaro eleito presidente da República, o que estava nas cogitações de pouca gente da classe política brasileira. Desde a sua posse até os dias atuais, o que se vê é uma guerra disfarçada (às vezes nem tanto) contra o presidente, com o aproveitamento de todo tipo de armas que podem atingi-lo de um jeito ou de outro, provocando no mínimo uma celeuma entre atirador e atirado, que consome o tempo que deveria ser dedicado à reconstrução nacional.
Bolsonaro não é flor que se cheire e a nosso ver não possui preparo suficiente para ocupar o mais alto cargo da nação. Mas foi eleito e as nossas leis não reprimem suficientemente o despreparo dos candidatos às mais importantes funções públicas, como principalmente a de presidente da República.
Lula da Silva tinha e tem menos preparo ainda, mas é amparado por uma entourage que o protege de ataques contra a sua ignorância, impedindo na maioria das vezes que ele entrasse em divididas. Não resta a menor dúvida que ele foi beneficiado por uma legião de descontentes com o antigo regime militar, do qual foi eleito símbolo de uma das vertentes de oposição ao mesmo.
Bolsonaro, apenas com rala experiência parlamentar, foi animado e estimulado pela sua claque de admiradores a sair candidato à Presidência, surpreendendo-se já nos primeiros dias de campanha com um vasto apoio popular, que não havia gostado dos 20 anos da ditadura militar iniciada em 1964, mas que logo percebeu que o que se seguiu depois foi ainda pior.
Havia uma brecha para a volta do militarismo, desde que legalmente disputado nas urnas, que deram a ele, Bolsonaro, a vitória. A partir daí, cessara de vez a palavra que mais se ouvia da metade para o final do regime militar de 64: golpe. Jair Bolsonaro foi eleito pelas urnas, ou seja, pelo povo em sua maioria. Ruim? Péssimo, estranho, outro militar na Presidência? Mas, foi legítima, ninguém pode negar.
Só que ele não soube se conduzir bem, aproveitando o que poderia ser chamado de “o novo militar”. Preferiu a rudeza das antigas, estimulado pessoalmente por um atentado contra a sua vida, do qual escapou não podemos dizer ileso, mas a salvo. Esse ataque ele não deve ter esquecido jamais, sempre imaginando quem estaria por detrás do algoz que quase lhe tira a vida.
Deve ter desconfiado de algumas pessoas, mas, sem provas, resolveu calar-se quanto a isso, para não se transformar em uma espécie de carma. Nem mesmo na última semana, quando o Supremo impediu que o agressor fosse ouvido em plenário, o que, apesar das suas deficiências mentais, poderia trazer algumas luzes ao atentado a Bolsonaro. Ficou a impressão de que não se deseja sequer uma pista para se chegar a uma conclusão sobre seus possíveis mandantes, ainda que posteriormente poderiam alegar inocência, debitando ao estado mental do agressor o que seriam falsas alegações. Poderia haver também pistas importantes, por que não? Reza um princípio bíblico, que passou a ser universal, que a verdade está no meio.
Voltando ao exercício da Presidência por Bolsonaro, falta-lhe sem dúvida a “mineirice” dos mineiros (ôps!), condição que sempre lhes protegeu no exercício de altos cargos públicos, onde o maior de todos foi o inesquecível Juscelino Kubitschek, um presidente campeão que assim se sagrou por falar menos e não mais.
Outro grave erro de Bolsonaro reside na sua teimosia em tratar mal a imprensa e os meios de comunicação, inclusive lhes cortando verbas publicitárias, necessárias não apenas a sua independência, como também e principalmente à sua subsistência.
Outro dos seus grandes erros (de Bolsonaro) é anunciar planos bem antes de tê-los sequer no papel, ou até mesmo na cabeça, o que o transforma em um político como tantos, sem um forte compromisso com a verdade.
E A PUBLICIDADE?
Este jornal, que completará 55 anos no próximo dia 21 de maio, tem procurado cobrir ao longo dessa jornada de mais de meio século as atividades publicitárias em geral, enaltecendo as grandes campanhas que já levaram o nosso país ao pódio de Cannes (este ano nem o Cannes Lions vai haver) por várias vezes, principalmente a partir de uma nova geração de profissionais dos anos 1970, que tudo fizeram para alcançar o pódio no famoso festival e depois se transformarem em sócios ou donos das suas agências.
Nestes tempos de novo coronavírus, prosseguimos o nosso trabalho, porém com maior dificuldade, porque as fases de quarentena têm interditado a abertura das agências, com os seus profissionais trabalhando em casa, em sistema de home office, o que não é a mesma coisa de um grupo de profissionais de uma mesma agência estirar-se nas poltronas que toda agência tem e em grupos perseguirem as brilhantes campanhas que os clientes aprovam, o consumidor interage e os festivais reconhecem e premiam.
Quando as agências voltarão a funcionar, ninguém sabe. Pois até para combater o temível vírus o governo se divide, com ministros e auxiliares apregoando o isolamento total de um lado e, de outro, alguns que começarão a aparecer mais destes dias em diante, acreditando ser possível evitar o isolamento 100%.
Nesta altura desse jogo macabro, ninguém sabe ao certo como terminará tudo isso. Aqui no Brasil, temos um novo ministro e uma nova equipe de Saúde, para, muito provavelmente, mudando o comportamento anterior de isolamento total, buscar uma saída. Estimamos que ela acabará surgindo e até antes do que imaginamos. Mas o rastro de destruição a ser deixado não será pouco, a ponto de reservarmos para esse vírus o pior lugar da nossa história.
Como acima dissemos, no dia 21 de maio o PROPMARK completará 55 anos de atividades jornalísticas setoriais ininterruptas. A edição comemorativa terá a data de capa de 18 de maio de 2020. Como sempre, uma edição imperdível, com um recheio histórico jornalístico em nossa área de atuação, com grande destaque.
Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)