Se existe uma máxima no mundo publicitário é a de que, para exercer a profissão, é preciso fazer parte de um seleto grupo de pessoas com insights criativos incríveis e diários, quase que como um superpoder.
Mas eu não acredito que a criatividade é para poucos. Para mim, a diferença entre uma pessoa criativa e outra que reclama de seus bloqueios mentais é apenas uma: a quantidade de estímulos que ela recebe ao longo da vida.
Acredito que criatividade não é criar do zero, mas sim combinar todos os estímulos que existem dentro de você.
E a melhor fonte de estímulos, para mim, são as viagens. Desde criança, meu pai, mesmo sem grana, fazia questão de nos levar para viajar: sítio, praia, montanha.
Eu era uma criança comum, curiosa como todas elas. Mas não demorou muito para que eu percebesse a fonte abundante e inesgotável de estímulos que cada lugar me proporcionava – e o quanto me sentia mais preparado para enfrentar o mundo cada vez que voltava.
Encontrei a fórmula da criatividade eterna: me importar menos com “o que” me inspira e descobrir “onde” buscar essa inspiração. O “o que” é simples. Tudo.
Qualquer coisa. Armazeno cada estímulo que já recebi, por menor que seja, e construo um repertório de soluções para questões pessoais, da minha equipe ou dos meus clientes.
A soma de tudo o que vivencio me traz inspiração constante: imagens, músicas, livros, conversas, não importa.
Faço o possível para me cercar de boas referências e fujo do que não agrega.
O “onde”, esse sim, é transformador. Na correria do dia a dia, muita gente esquece o quão poderoso é sair de um ambiente familiar e confortável e se jogar de cabeça em uma nova experiência.
Segui os ensinamentos de meu pai e, em vez de uma grande viagem, planejada por meses para um lugar distante, optei por viver pequenas aventuras todos os fins de semana. Sem exceção.
Pode ser difícil, cansativo, mas nunca, nunca mesmo, um desperdício.
Precisei percorrer apenas 100 quilômetros para ensinar Koa, meu filho de dois anos, a andar de caiaque.
E outros 50 km para apresentar ao caçula, Akira, de quatro meses, seu primeiro banho de cachoeira.
O aniversário de cinco anos da mais velha, Naomi, foi em um acampamento improvisado no alto de uma montanha em Itirapina (SP), com tios e primos cantando e dançando em volta da fogueira.
Perdi a conta de quantos problemas aparentemente sem saída já resolvi enquanto dirigia entre uma cidade e outra. A cada passo fora da bolha, uma descoberta.
Da vontade de compartilhar essa filosofia de vida nasceu o Hidaka Explorer, websérie em que saio em busca de novos destinos ao lado da minha mulher e dos meus filhos. Hoje, projetos que envolvem viagens se tornaram parte do DNA da Bufalos.
Expandi essa paixão para o ambiente de trabalho e incentivo meu time a pensar em projetos que rodem os quatro cantos do mundo.
Nossa vontade de saber mais sobre algo ou alguém nos levou à criação de alguns dos cases mais importantes da produtora, como o programa Bufalos na Califórnia, para o Discovery; e a série Start, para a Youse. Estados Unidos, Argentina, Chile, Itália, França, Marrocos, Ucrânia, Japão… já percorremos vários pontos do mapa.
E esse é só o começo – afinal, ainda existe um mundo inteiro de inspiração à disposição.
Todo mundo nasce criativo, mas nem todo mundo permanece criativo. Preparado para fazer as malas?
Guilber Hidaka é CEO e diretor de cena da Bufalos