Inspiração existe, mas ela precisa te encontrar trabalhando. Essa frase é do pintor espanhol Pablo Picasso e diz muito do que penso sobre inspiração e criatividade na vida e no trabalho. Elas existem, mas não podemos ficar sentados e de braços cruzados, esperando chegarem. Temos de arregaçar as mangas, estabelecer um objetivo e correr atrás. Sempre mergulhei de cabeça em tudo que faço e em minha profissão não é diferente.
Aliás, temos um grande defeito. Costumamos dividir nossas vidas entre pessoal e profissional. Isso consiste em uma separação que não acontece na prática. Somos um só e não existe um botão de ativar o modo trabalho e desativar o modo pessoal ou o contrário. Pensem em todas as barreiras que deixariam de existir se não separássemos tantas coisas. Tudo se tornaria mais simples, certo? O simples é bom, é criativo e estimulante.
Confesso que, depois de ter deixado de separar minha vida da minha profissão, percebi gastar menos tempo na execução das atividades e mais tempo me dedicando a adquirir conhecimentos para “resolver problemas”, focando meu tempo no que realmente merece minha energia.
Nunca acreditei que cumprir rigorosamente a jornada de oito horas de expediente fosse eficiente. Calma! Não estou falando em trabalhar 24 horas por dia, ok? Aliás, creio na qualidade do tempo e não na quantidade dele. É preciso deixar as portas do olhar e da mente abertas para que novas ideias surjam, independentemente de estar trabalhando ou não. A fluidez harmônica dos pensamentos depende, fundamentalmente, da ocupação, que também impede a distração.
Ninguém é criativo sem conteúdo, muito menos sem dedicação. Observo muito e tiro proveito de todas as experiências ao meu redor. Seja em um aniversário de criança, em uma palestra internacional, num bate-papo com amigos, durante viagens, no cinema, lendo um livro, tomando banho ou, simplesmente, vendo a vida passar. Se estivermos atentos, o processo de criação acontece em meio às referências. É um exercício delicioso e requer tentativas, experimentações e erros. Se joga.
Uma maneira de organizar meus pensamentos são os mapas mentais, com eles consigo canalizar a capacidade de assimilar conteúdo. Nosso cérebro é mais eficiente quando estimulado visualmente. Tudo pode ser inspiração na hora de desenvolver uma ação, um novo produto ou, até mesmo, dar palpite na tarefa alheia. Só assim seremos capazes de criar projetos novos, com algo a mais a dizer.
O diferente sempre me fascinou, embora seja assustador para muitas pessoas. Gosto da diversidade em todos os aspectos e acredito que todo conhecimento é válido. Busco conhecer até aquilo que parece inútil. Tudo se transforma, algo pode parecer banal para uns, mas pode ser a solução de um problema para outros. Por que não?
Sou responsável por um time de marketing formado por pessoas detentoras de conhecimentos muito diversos, e a troca é essencial. Quanto mais compartilhamos, melhor flui o processo de criação entre minha equipe. Muitas vezes me deparo com profissionais recém-chegados, muito capacitados, mas sem conhecimento profundo do nosso negócio. Muitas perguntas feitas por eles seriam simplesmente respondidas com um ‘porque o nosso mercado funciona assim’, mas não me permito dar respostas tão óbvias como essa. Sempre vejo nesses questionamentos uma grande oportunidade de repensar processos, pois se eu só tenho essa resposta a dar, é porque não temos um motivo forte para fazer o que estamos fazendo.
O fato de alguém não conhecer em profundidade aquilo que você faz ou, simplesmente, não pensar como você acaba te completando e tirando do pensamento mecânico e perigoso. Parece frase batida de livro sobre inovação, mas a prática é difícil. Precisamos ter coragem para nos permitirmos errar e assumir, bem como necessitamos ser empáticos com os erros e dúvidas dos outros. Ainda somos humanos e a ideia é que sejamos melhores juntos!
E viva Picasso que, em meio à incompreensão, se manteve firme e foi um grande gênio!
Larissa Medialdéa é head de marketing da Clear Channel Brasil.