Querida inspiração. Quem te escreve é Luciana-sem-inspiração, um pouco descontente e meio sem graça com esse nosso desencontro.
Justo agora que há uma chance de falar bem de você e contar tudo que fizemos ao longo desses anos, logo agora (e poxa, com tanta gente criativa lendo), você me apronta essa!
Não sei se deixei você escapar entre uma reunião e outra, ou se não recebeu meu invite mental, mas sei que mandei o invite, porque pensei milhões de vezes que o texto seria na quinta e olha só, Inspiração amada, hoje é quarta, e são 23h22.
Considerando que você não vem, tomei a liberdade de falar sobre nossa relação. Criativos não podem se dar ao luxo de ficar sem palavras, nós somos tradutores, você sabe.
Prometo foco e força de vontade. Foco, como quando entrei na primeira agência para estagiar na redação e com medo do diretor criativo achar meus títulos ruins entreguei 20 opções extras.
Ou ele escolheria mais de uma opção, ou odiaria todas, ou ficaria ocupado lendo aquilo tudo enquanto eu pensaria numa defesa criativa digna para o que fiz.
Não sei se você estava lá naquele dia, Inspiração, mas lembro de ter a deliciosa noção de que, inspirada ou na pressão, de onde vem uma ideia, pode vir muito mais!
Anos mais tarde, quando criei o @musiquice com a Carol Naine, minha mulher (e cantora preferida), lembro de ver você lá. A ideia de criar uma música por dia, para fotos aleatórias do Instagram nos animou demais (sim, você fez sua ‘coisa’ e nos inspirou!).
No início tudo fluiu bem, mas depois de dezenas de músicas feitas entendi que o exercício criativo nem sempre vem como uma brisa gentil.
Não quero ser má agradecida, Inspiração, mas tem vezes em que criar é lembrar-se do que aprendemos, e não só do que sentimos. Uma chuva de referência, técnica e teimosia fez o projeto florescer. Não foi só você, Inspiração. Foi a rotina, essa fricção que também faz acender ideias.
Quando virei diretora criativa e sócia numa das agências por onde passei, nossa relação mudou. Eu tinha pouco tempo para criar sozinha, no meu canto, com minha playlist inspiradora no meio da tarde, e muitos compromissos como estar no cliente e dirigir o time criativo.
Essas não são atividades menos inspiradoras, mas definitivamente me ajudaram a entender que você, Inspiration, não é um ser que nos cutuca e balbucia uma ideia no ouvido e depois vai embora sem dizer quando volta.
Você não é uma sorte, um acaso. Você é minha ferramenta de trabalho e precisa estar treinada, em dia comigo.
Hoje, dirigindo a criação de branded content na Vix, fica evidente que essa jornada tinha de evoluir ao longo do caminho. A Vix é a maior plataforma de conteúdo social do Brasil. Que outra forma poderemos lidar com criatividade x performance x responsabilidade x alegria x sonhos x vontade de vencer na vida x fazer o que gosta x fazer coisas excelentes, senão olhando para tudo isso com bons olhos, reconhecendo que quando achamos que falta inspiração pode ser porque, na verdade, ela já está e só não percebemos?
Querida inspiração, perdoe meu coração afoito no início da carta. Você sabe como os publicitários são.
Encerro aqui agradecendo pelas sopradas no ouvido, mas sobretudo pelas lições reais, de que há sempre uma nova história por vir. Encontre-me amanhã, umas 9 no escritório. Tem café coado e um bocado delas pra escrevermos juntas.
Luciana Elaiuy, diretora criativa de branded content na VIX Brasil