Após sucessivos momentos de crise econômica, a expectativa era a de que o país melhoraria com a posse do novo presidente da República
e a reconhecida capacidade
do economista Paulo Guedes, nomeado ministro da Economia
Não foi o que vimos e, pior, não é o que estamos vendo: o presidente Bolsonaro está próximo de completar o seu primeiro ano de mandato e, se o país não piorou em termos econômicos, também não melhorou.
Há muitas razões para isso e uma delas é a falta de articulação com o Congresso (Câmara e Senado), o que revela um presidente da República pouco afeito a dialogar com os seus antigos pares. Por outro lado, a oposição, com destaque para os derrotados nas últimas eleições e que se aglutiram com o PT no segundo turno, essa oposição não para de criar problemas para a governabilidade do país, percebendo que Jair Bolsonaro tem pouco talento para lidar com crises, preferindo mais o embate raivoso do que a procura da conciliação.
Diante disso, ele e seu governo se tornaram presas fáceis dos provocadores, que com exagerada frequência criam-lhe problemas que um presidente astuto ignoraria, ou no mínimo saberia separar o joio do trigo.
Não é isso, porém, que acontece. Como um bom torcedor de futebol, o presidente da República aprecia entrar em todas as provocações, principalmente aquelas que no esporte rei chamamos de bolas divididas. A prosseguir assim, teremos os quatro anos da sua Presidência em conflito diário com seus opositores, que estão esfregando as mãos para que isso venha a acontecer, e até mesmo com os seus colaboradores, percorrendo assim o caminho do absurdo.
Já tivemos tempo suficiente, desde a sua posse, para recebermos boas notícias do poder central, mas isso não está ocorrendo, ou ocorre através de um conta-gotas, sem força para atingir a imensa população brasileira.
Um comandante sábio não insiste com ideias que, atiradas à população numa espécie de pesquisa medieval, são devolvidas com reprovação bem acima de 50% por parte da população e dos meios de informação, dos quais ele deveria procurar mais ajuda e não com eles conflitar.
Ainda acreditamos, por ser pessoa bem-intencionada, que vai reverter esse quadro, mas estamos sofrendo muito até aqui e isso, se ocorrer, deve ser logo, se possível até imediatamente, pois o país, que vem de uma história de descalabros oficiais nos últimos anos de governanças, não aguenta mais a sucessão infinda de crises e falta de rumos que tomou conta da nação.
Bolsonaro ainda tem mais de três anos para mostrar a que veio e acreditamos que mostrará. Mas, é preciso que, mais que ninguém, entenda isso de forma ampla, deixando de sonhar com o segundo mandato, que, se vier, será como consequência do primeiro, o qual, sinceramente até aqui, não o recomenda.
Para dar um exemplo dessa império sem sentidos em que se transformou o alto comando do país, o Grupo Bandeirantes de Comunicação, presidido pelo competente Johnny Saad, havia convidado o ministro Paulo Guedes para vir a São Paulo na manhã do dia 14 deste mês de outubro, uma segunda-feira, para falar ao empresariado paulista sobre os seus planos e ideias, principalmente no que tange à reversão de expectativas negativas que vimos tendo nos últimos tempos.
A direção do Grupo Band convidou mais de 300 empresários de grandes corporações, para não apenas escutar o ministro, mas debater com ele, formular perguntas, apontar eventualmente caminhos, enfim tudo o que se faz em uma democracia de verdade e não em um regime que pensa – apenas pensa – ser democrático.
Pasme, leitor, mas o ministro Paulo Guedes não compareceu, avisando em cima da hora que não poderia vir porque o seu plano econômico ainda não estava pronto.
Decepção total entre os presentes, que organizaram entre eles um debate sobre a situação nacional, sem a força porém da presença do ministro da Economia e seus planos, dos quais dependem não mais o nosso futuro, mas principalmente o nosso presente.
Como pode adjetivar essa situação? Acreditar na impossibilidade da vinda do ministro pelo argumento que usou (ou, teria usado), ou aumentar a desesperança de todos em relação aos nossos próximos três anos, que nos parecem pouco prometer em termos de mudanças e muito a acenar com a célebre frase bem brasileira: “Virem-se como podem?”