Enquanto um monte de gente caçava Pokémon, a Jade Duarte caçava o Bolt. E, em 24 horas, se tornava celebridade internacional, construindo um extraordinário case de marketing. Demonstrando para nós, na prática, como as coisas se tornaram fáceis, hoje em dia, para quem quer construir uma marca rapidamente. Fáceis e baratas.
Ela precisou apenas estar no lugar certo, na hora certa, armada de um celular. Enquanto outras garotas se atiraram para cima do atleta, Jade fez jogo duro. Não aceitou a intermediação de um segurança na abordagem a ela. Afinal, não era um maço de cigarro que alguém manda um empregado comprar. Só cedeu quando o próprio Bolt veio a seu encontro. Aí, não perdeu mais tempo. E em menos de uma hora já tinha em mãos a preciosíssima peça de propaganda que iria lançar a marca Jade Duarte, ou melhor, a marca Jady Bolt para o mundo.
Próximo passo: enviar “em segredo” a foto para as amigas, enquanto o nosso herói ainda ressonava. Claro que as amigas, antes mesmo do dia amanhecer, já tinham cometido a “indiscrição” de vazar as fotos para o mundo, via redes sociais. Pronto. Agora era só aguardar a mídia, como dizem as celebridades. E ela veio, como sempre, ávida por uma boa fofoca. Para ajudar, Jade não era nenhuma maravilha, o que provocou e dividiu a galera, multiplicando o interesse em conhecer a tal.
Como sempre acontece (lembram da Geise Arruda?), não sendo bonita, melhor ainda. “Deixa eu ver como é feia! Afe!” Feito um raio, a notícia atravessou o oceano e chegou na Europa. Caiu na boca do Sun, tabloide especializado exatamente nisso que a Jade fez, em todas as esferas de poder. Prato cheio, virou convite para entrevista exclusiva. Com direito a dim dim, referência insubstituível de um sucesso de marketing.
Com uma entrevista internacional no currículo, Jady Bolt passou a não dar conta de tanto assédio e precisou de um empresário. Agora está na fase dos ensaios fotográficos sensuais. E la nave va. Qual é a lição que Jady nos dá? Que o mundo do marketing está dividido entre quem caça Pokémon e quem caça Bolt.
Os que caçam Pokémon são aqueles que ficam deslumbrados com as novidades e passam a vida a repeti-las, sem acrescentar nada de seu. Que adoram uma citação, mas não conseguem surpreender citando algo de sua autoria. Que começam a “criar”, procurando referências, que começam a “pensar”, catando pensamentos alheios. Que se distraem com o feito, com o pronto, com o acabado. Que não se ocupam em aportar, em transformar, em provocar, em causar algum efeito com seu trabalho.
Gente que aposta que ser bom é ser bom com o bom realizado pelo outro, é mostrar que está “por dentro”, que está ligado, que está up to date. Que fica tão envolvida com esse objetivo, que passa a vida buscando indicativos consagrados para dar qualquer passo. Caçando Pokémon. Sem ver as oportunidades que a vida oferece para construir uma história original. E, com ela, a sua própria marca. Quantos Bolts já passaram por você enquanto você caçava Pokémon?
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing