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A planilha encontrada pela Lava Jato na residência de um dos executivos da Odebrecht, com relação de pagamentos realizados a quase três centenas de políticos pertencentes a 24 partidos, dá um recado à população brasileira: são necessárias mudanças fundamentais no sistema político em vigor.

A se confirmarem as anotações, a conclusão inevitável é a de que o atual modelo estimula a corrupção, que muito provavelmente não se esgotará com mais essa descoberta dos agentes da Lava Jato.

O país precisa ser passado a limpo se quisermos evitar a repetição desses fatos lamentáveis que têm sido revelados à opinião pública brasileira (e também do exterior, provocando chamadas de capa em publicações importantes como a The Economist nesta sua última edição).

Há outro dado que merece reflexão nessa planilha da Odebrecht: ela pode provocar um esgarçamento na linha punitiva da Lava Jato, pois os até aqui envolvidos aproveitarão a quantidade de listados para se defenderem, sob a alegação de prática comum na vida política brasileira.

Não que isso possa significar tolerância legal, mas as quase três centenas de nomes de 24 partidos políticos poderão afrouxar as manifestações populares que vêm pressionando as autoridades à punição exemplar dos envolvidos.

Pode-se repetir a velha história de que, se todos fazem, é porque o sistema a isso leva, o que pode contribuir para abrandar e até mesmo absolver os culpados.

Lamentável observarmos que o país, diante dessa situação no mínimo esdrúxula, venha perder a grande oportunidade mantida até aqui de acabar com grupos e partidos trambiqueiros, dando início a uma nova fase na vida política nacional.

Só nos resta torcer para que essa possibilidade de tolerância geral não venha a ocorrer, mantendo o respeito à lei doa a quem doer e pouco importando se são poucos ou muitos os infratores.

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Passada a Semana Santa, a expectativa é no sentido de que a economia comece realmente a se reerguer. Os mais recentes dados sobre a quantidade de desempregados são assustadores. E, caso a economia persista em se manter na corda bamba, esse quadro tende a se agravar, gerando maior caos na realidade social do país.
Trata-se de uma situação que muito interessa aos grupos da desordem que não têm faltado em sair às ruas nestas últimas semanas, procurando confundir determinadas parcelas da opinião pública brasileira.

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Trecho final do artigo Marketing do Medo, assinado por Walter Longo, presidente da Abril, postado no Facebook:

“Medo é um sentimento permanente. A única coisa que se altera é o seu efeito positivo ou negativo sobre a economia. É o medo que determina as decisões corporativas e é o medo que traz as suas piores consequências.

O medo positivo leva a economia para cima. Faz com que as empresas se expandam, acelerem suas decisões de investimento. Quando de repente o vetor do medo muda de direção, imediatamente a espiral se torna descendente e todos param de investir. Essa deve ser uma das explicações do por que as crises aparecem de repente e de maneira tão inesperada.

Uma visão retrospectiva dos últimos cem anos vai nos mostrar várias fases de retração e expansão econômica mundiais. Quando se faz uma análise mais profunda desses fenômenos, conclui-se que ambos são sempre determinados pelo medo positivo ou negativo que toma conta das pessoas e empresas.

Os administradores e gestores devem ter em mente que qualquer decisão empresarial precisa ser baseada em coragem e não em medo. Porque todas as vezes que decidimos por medo, os riscos dessa decisão acabam sendo exponenciais. A decisão baseada na coragem, seja ela de avançar ou parar, acaba sendo um processo equilibrado, sereno e consciente. Leva em conta fatores reais de avaliação e permite o controle do processo nas mãos da organização. Já a decisão pelo medo é exógena, repleta de variáveis incontroláveis. Quem decide não é você e sim os humores do mercado, os movimentos de seu concorrente, as notícias da mídia. Por isso, sempre que uma empresa opta pelo Marketing do Medo está se jogando de forma insegura rumo ao desconhecido.

Alguém já disse que a esperança venceu o medo. Pode ser na política, mas no mundo dos negócios o medo continua reinando absoluto, transformando a todos nós em verdadeiras vítimas do critério, levando-nos a decisões equivocadas, irracionais, emocionais e fora de tempo. E é preciso muita coragem para mudar tudo isso”.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência