Tito Madi partiu para sempre no dia 26 de setembro do ano passado. Assim como Miltinho, que se despediu em 7 de setembro de 2014. De comum entre os dois, além de amizade, uma mesma gravação. A da música Menina Moça, composta por Luiz Antônio. De onde tirei a citação acima. Nossas vidas estão a exatos 30 ou 60 segundos de um desastre, ou de uma bênção. De chegarmos um minuto antes e cruzarmos com a que será a companheira de nossas vidas e se preparava para sair… De passarmos 30 segundos depois da marquise despencar. Ou pela pressa para honrar compromissos e voltar de helicóptero, como tentou fazer o Ricardo Boechat.
“Timing”, se não é tudo, é quase tudo em nossas vidas. Por uma questão de segundos perde-se o bonde, o trem, o avião, a oportunidade, o negócio, o amor, a felicidade, a vida. Não se pode nunca chegar antes e nem depois. Sempre no tempo certo, no momento exato. Mesmo sabendo que na maior parte das situações essa chegada independe de nós.
E aí é que entra uma tal de sorte, ou, da fatalidade. Mas como explicação e sem nenhuma utilidade. E aí recorremos ao se… se isso, se aquilo… Tem tudo a ver com as circunstâncias que nos cercam, como nos ensinou Ortega Y Gasset – “Eu sou eu mais as minhas circunstâncias…”. Assim, no ano passado, a Smart Fit, o maior “case” da relativamente curta história das academias de ginástica em nosso país, decidiu-se pela abertura do capital.
Certamente, deveria ter feito isso meses antes. Melhor ainda, no início do ano anterior. Mas, esperou demais, e o melhor momento passou. De qualquer maneira, Smart Fit é uma lição memorável e extraordinária de um empresário que decidiu contrariar a tendência e a corrente, inclusive atirando contra o próprio negócio antes que os concorrentes o fizessem, a sua outra rede, a Bio Ritmo. Atirou, corajosa e conscientemente, no próprio pé. Mais que no pé, no próprio corpo. Quase no coração…
E por que o melhor momento passou? Porque desde o início do ano passado, com os resultados divulgados, a Smart Fit, mesmo e ainda ganhando clientes, deixou de ser lucrativa e vem acumulando prejuízos. No terceiro trimestre de 2018, para suportar seu plano radical e agressivo de crescimento, a Smart Fit realizou um prejuízo de R$ 25 milhões, contra um resultado positivo de R$ 4,6 milhões no mesmo trimestre de 2017. A Smart Fit, completou dez anos e muitos meses depois da abertura de sua primeira academia, na volta de seu líder, Edgar Corona, de um evento do setor nos Estados Unidos, absolutamente convencido que o negócio iria mudar de forma radical. E assim, inspirado na rede americana Planet Fitness, sediada em Newington, New Hampshire, com 1.000 unidades, nascia uma rede, Smart Fit, que hoje ostenta 588 unidades e uma base de clientes de 1,5 milhão de esportistas. Brasil mais 5 países.
E tudo começou quando no avião, voltando dos Estados Unidos, não obstante o sucesso da Bio Ritmo, e de concorrentes famosos e celebrados como Cia. Athletica, Competition, Formula, Raia 4, Runner e Reebok, entre outros, pensou: “Se alguém vai chutar a minha bunda que esse alguém seja eu mesmo, ainda que corra o risco de cair por esse malabarismo…”. Talvez, a melhor lição dos últimos anos de que, antes que alguém ataque seu negócio, seja você seu maior concorrente. Todos podem justificar seus erros e desastres por uma questão de “timing”, ou comemorar o sucesso pelo mesmo motivo. O único fracasso que jamais poderemos atribuir ao “timing” é o de não ter coragem de rever a estratégia e reposicionar o negócio diante da consciência que o business vai mudar radicalmente. Não ter tido a sensibilidade de compreender, decidir e agir, que o “timing” tinha passado, e o novo timing nos remetia a uma outra direção. Como vem acontecendo hoje com a quase totalidade dos negócios. Como anda o “timing” do seu negócio? Você está preparado para chutar a própria bunda? Sem cair…
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)