Dê o leitor o título que quiser a este editorial, em um momento da nossa economia que ninguém esperava, nem mesmo juntos, todos os adversários de Jair Bolsonaro na época das últimas eleições.

O que estamos vendo é um país perdido em si mesmo, com os mais altos mandatários sem saber que providências tomar para que o caos mais absoluto não ocorra, tornando o país de vez inviável.

Só para lembrar o que de há muito não presenciávamos nas altas esferas republicanas, temos um presidente da República tecendo armas com o governador do estado mais importante da Federação.

O episódio que proporcionaram dias atrás, não apenas chocou a população, como criou-lhe uma insegurança total a respeito dos poderes constituídos, pois a discussão assemelhou-se a um embate verbal entre adolescentes.

Logo depois, Bolsonaro insiste em brigar com o seu ministro da Saúde, um médico íntegro que está fazendo o possível e o impossível para minorar os efeitos dessa praga do novo coronavírus entre nós. Tudo começou quando houve aquela discordância entre o presidente e o governador de São Paulo a respeito da paralisação total (ou quase isso) das atividades profissionais e escolares em todo o país.

Bastou o ministro da Saúde manifestar, embora sutilmente, sua concordância com essa tese, para ser considerado um fora de linha em relação ao seu chefe, o presidente Bolsonaro.

A miscelânia em que isso se transformou leva o observador mais atento à conclusão de que todos podem estar certos, como também que todos podem estar errados, o que só complica a solução de uma crise de saúde como jamais havíamos tomado conhecimento ter havido em nosso país.

Para engrossar ainda mais o caldo, criou-se inclusive desde antes do novo coronavírus um embate político e factual entre o presidente e grande parte da imprensa brasileira, que pode ter muitas origens, inclusive o temor desta de que com o tempo acabe se repetindo 1964.

Embora uma incerteza, essa desconfiança tem gerado atritos diários entre Bolsonaro, a imprensa e boa parte dos seus jornalistas, prejudicando de forma acentuada o noticiário diário que os meios de comunicação produzem sobre as atividades do Palácio do Planalto.

O povo, confuso, não sabe em quem mais acreditar, tal o bombardeio diário que se processa entre as partes. Podemos até chamar isso de democracia, mas se esta for apenas e tão somente isto a que diariamente estamos assistindo estamos sem saída.

Já apregoamos neste espaço, em nossa última edição, que melhor seria o presidente renunciar, passando o bastão para o seu vice Mourão, um sujeito que demonstra constantemente estar mais preparado para o difícil cargo de conduzir o país do que o seu atual titular.

Como essa hipótese é pouco provável, teremos de aturar essa situação de crise ainda por muito tempo, sem saber ao certo se os mandatos em jogo chegarão ao seu término. Até acreditamos que sim, mas isso nos reserva um tempo ainda comprido, que terá tudo para manter ou até mesmo aumentar essa beligerância entre as partes.

E, assim sendo – e também como sempre –, quem sairá perdendo seremos nós, o povo que tem de trabalhar para manter-se a si e a sua família em condições possíveis de uma vida digna.

Começo a acreditar, porém, que estaremos em guerra entre nós mesmos, até o final dos mandatos dos protagonistas deste texto, escrito por um brasileiro indignado, que esperava mais, muito mais, desses beligerantes teatrais.


Na madrugada de quinta para sexta-feira aqui no Brasil, o mercado publicitário ficou sabendo que a direção do Cannes Lions cancelara definitivamente a realização do famoso festival este ano, devido à epidemia da Covid-19, que assola praticamente toda a humanidade.

Fez bem a direção do Cannes Lions, liberando assim os players dessa disputa anual que se trava no mais famoso festival do marketing e da propaganda do planeta para outras atividades em seus países, quem sabe até muitos criando peças e campanhas para atenuar a agonia de pessoas que têm sofrido com esse maldito e estranho vírus, contra a qual a ciência ainda não descobriu um antídoto capaz de neutralizá-lo.

Voltando ao Cannes Lions, entendemos que foi até bom o seu cancelamento este ano, porque o que mais haveria concorrendo seriam campanhas e peças de todo o mundo publicitário, fazendo-nos lembrar que até uma desgraça que matou muitas vidas tem o seu dia de glória, ainda que inversa, em um certame nascido para recompensar a criatividade da comunicação humana.

Vamos todos torcer para que essa pandemia termine logo, tranquilizando países, seus governantes e principalmente suas populações, mesmo que os seus conflitos políticos prossigam.


Nesse retorno à normalidade, que as marcas também retornem com toda a força aos meios, lembrando que a alegria causada pela propaganda às pessoas é um bem engenhoso do capitalismo, que torna a vida mais suave, ainda que nem todos possam ter todos os bens oferecidos pelos meios através das mensagens comerciais que veiculam.

Essa é uma batalha gostosa de participar, por todos nela envolvidos. A razão mais forte disso talvez resida no desafio de se criar o melhor e principalmente o inédito na comunicação publicitária, com a força de movimentar o consumidor em direção ao produto ou serviço anunciado, além de ideias, boas correntes de pensamento e outras formas de comunicação, lembrando a fonte inesgotável que é a capacidade humana de criar, quando o resultado em tese se destina ao bem de todos.

Quem já foi a Cannes e os poucos destes que tiveram a curiosidade de visitar uma feira de modernos armamentos entendem a diferença entre o bem e o mal.

Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)