Erico Borgo, professor e fundador da Omelete, fala sobre o uso de inteligência artificial e como isso impacta o mercado de trabalho

Erico Borgo é um nome conhecido no mundo geek. O professor de criatividade e fundador do Omelete é cocriador da CCXP no Brasil e tem um currículo extenso de 27 anos de trabalho no mercado de entretenimento.

O "nerd" entrou no palco da Gramado Summit 2024 ao som de "The Hall of Mirrors", do grupo musical alemão Kraftwerk mas, o que parecia apenas uma trilha sonora, na verdade se mostrou como o gancho para o início da palestra "Não seja instinto! Criatividade contra o apocalipse das IAs", que aconteceu nesta quarta-feira (10).

Borgo usou da sua história pessoal com a canção — ele contou que ouviu a música pela primeira fez em um comercial de TV dos anos 80 — para introduzir o assunto do uso das tecnologias, uma vez que o grupo musical foi um dos primeiros a utilizar um computador em seus lançamentos, algo que assustou as pessoas daquele tempo.  

"Na época, eles foram extremamente criticados pelo uso da tecnologia em algo que era humano e artístico, a música. Eles foram considerados párias na comunidade da música por terem usado o computador para o lançamento. Sempre que uma tecnologia surge, ela assusta mas, 50 anos depois, a música eletrônica faz parte do cenário musical global e ninguém fala para a Beyoncé que ela é menos artista por usar deste recurso", afirmou Borgo.

Trazendo o tema para a atualidade, o empresário usou seu espaço para debater o uso das inteligências artificiais generativas, que estão sendo usadas em diversos setores do mercado e tem causado preocupação entre a população. "Nós estamos na era das IAs, que são bem diferentes daquelas que nós assistíamos nos cinemas. Não estamos lidando com aquelas tecnologias da ficção que sabiam que existiam e, por isso, causaram problemas. Hoje, estamos enfrentando a IA generativa, que são técnicas", explicou.

De fato, diferente de casos fictícios como a Skynet do "Exterminador do Futuro" e o Ultron, da Marvel, as tecnologias atuais são usadas para criar informações com base em um conjunto de dados puxado pela internet, ou seja, ela responde a um comando primário.

O uso dessa tecnologia tem se expandindo de acordo com a evolução do mercado tecnológico e, hoje, já é possível criar imagens, vídeos, pessoas, vozes feitas 100% através dessas plataformas. Mas se por um lado, muitos encaram esses feitos como algo criativo, Borgo tem uma outra visão sobre o assunto.

"É criativo gerar algo a partir de uma coisa que nós que colocamos ali para ser criado?", indagou para o público que estava presente no auditório do Serra Park.

Humano X IA
Ao longo da palestra, Borgo apresentou algumas comparações entre a tecnologia e o ser humano. Para ilustrar seu pensamento, o fundador da Omelete usou uma mochila.

Segundo ele, os humanos carregam uma mochila cheia das coisas que já viveram, como experiências da vida, coisas que foram feitas e passadas ao longo dos anos e que, por mais que limitada, isso é que o que nos dá humanidade e diferencia o humano do tecnológico.

Além disso, Borgo destacou o caráter técnico das IAs, afirmando que as comparações não podem se restringir unicamente neste tema. "Se nós formos técnicos, iremos perder para as IAs. Então, temos que buscar algo que nos diferencia disso tudo, como a individualidade humano. A nossa mochila é pequena, mas ela carrega tudo que somos, vivemos, sofremos, amamos etc e nós temos que apostar nisso", ressaltou o executivo.

Mercado de trabalho
Segundo um relatório do Fórum Econômico Mundial, até 85 milhões de empregos podem ser perdidos para a automação até 2030 e, por isso, a discussão sobre o uso das tecnologias esbarra de forma recorrente na possibilidade pessoas perderem os seus empregos para as máquinas — algo que já vem acontecendo, principalmente no setor operacional como telemarketing e linha de produção.

Em 2023, esse medo chegou no mercado de entretenimento, ocasionando inclusive a greve dos roteiristas e artistas de Hollywood, o que resultou em uma pausa nas produções dos EUA.

Uma década antes, um relatório da Universidade de Oxford incluiu os dubladores na lista de profissionais que corriam risco de perder seus empregos por conta do uso da tecnologia. Essa preocupação chegou no Brasil em janeiro deste ano, quando os dubladores do país se uniram para pedir uma regulamentação do uso das IAs nas produções.

Apesar do pessimismo das notícias, Borgo afirmou que "nem tudo está perdido". "O trabalho de emocionar é, e continuará sendo, humano, não de máquinas. Só o ser humano sabe o que é ser humano, conviver em sociedade, ter soluções criativas, empatia... É nisso que temos que nos agarrar, mas precisamos de três coisas para nos destacarmos nesse futuro: criatividade, inteligência emocional e pensamento crítico. Quem tiver essas três características, sempre terá espaço no mercado", revelou o empresário.

Por fim, ele propôs uma reflexão para os presentes no auditório, afirmando que as pessoas não são o que elas fazem para viver, mas a soma de todas as experiências que foram vividas até aquele momento e, por isso, as pessoas deveriam se perguntar o que elas fazem e o que elas fazem de verdade.