Eu confesso. Sou viciado.
No início era só de vez em quando, algo esporádico, uma brincadeira inocente.
Aos poucos, ficou mais frequente. Até chegar o momento em que não conseguia mais ficar sem, virou uma obsessão.
Começou aos 12 anos. Como todo e qualquer carioca, minha vida era a praia.
Um dia cheguei em casa e vi uma VHS antiga. Luzes da Cidade, do Chaplin. Tirei da caixa, coloquei no videocassete. E pá! A onda bateu. E foi bem louca.
De repente, as horas e horas de pé na areia foram substituídas por sessões seguidas de dias inteiros no cinema. A partir daí comecei a andar com outra galera. Quentin, Woody, Malick, Martin e Stanley. Um pessoal da pesada, que até hoje curto dar um rolê de vez em quando só pra relembrar os velhos tempos.
Aos 15, já um típico consumidor voraz, comecei a produzir a própria parada.
Arrumei uma câmera bem vagabunda, uma Canon portátil de 2.5 megapixels, e passei a fotografar, filmar videos e documentários caseiros para serem exibidos em grandes eventos: as festas de fim de ano da família. Era fácil convencer a plateia. Bem fácil.
O tempo passou e, de lá pra cá, a compulsão só aumentou. Eu me vi com 20 e poucos anos, devorando e criando imagens. Virei diretor, me tornei compulsivo. Não apenas quando estou filmando um projeto, mas no meu dia a dia. Meu vício me alimenta e inspira.
Na madrugada, enquanto uns assaltam a geladeira, eu assalto o Instagram. Pego-me sentado na cama, olhando obsessivamente sequências intermináveis de imagens. Descubro um diretor de fotografia sueco incrível, que me leva a uma fotografa polonesa capaz de recriar cenários dos anos 1970, que, por sua vez, me leva a um artista plástico americano que faz instalações no deserto. É algo infinito, interminável, insaciável.
Nas férias, me permito a overdose. Trinta dias por ano de consumo ilimitado.
Coloco minha 5D na mala, um jogo completo de lentes e exploro um destino diferente só para fotografar e ver coisas novas.
Camboja, Vietnã, Tailândia, Amsterdã, Arizona, Atacama e Nova York.
Imagens inspiradoras estão por todos os lados. É incrível olhar e imaginar histórias e enquadramentos.
Você pode assistir a um espetáculo surpreendente em Nova York, como o Sleep no More, ou clicar uma cena cinematográfica em um vilarejo na extrema Patagônia.
Quando volto, estou cheio de dor nas costas. Paciência. Era inevitável.
Como ia deixar de levar aquela 24 mm f/1.4? O bagulho é louco, maluco. Que lente linda e inspiradora!
Meu único arrependimento está nas fotos e cenas que, por algum motivo, deixei de fazer. Mas relaxa, isso só aumenta a vontade de querer mais.
E assim, dose após dose, sigo com minha vida intensa, desregrada e sem limites. Considero-me um viciado de sorte por ter um ofício capaz de me proporcionar experiências novas a cada dia.
Vivemos em uma época na qual as fontes e os recursos são inesgotáveis, basta ter uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e sentir a vibe. Suave.
Aqui vai uma pequena lista de sugestões. Sem querer fazer apologia, garanto que a brisa é da boa.
Instagram: visite @reedmorano, @heist_online, @borjalopezdiaz_. Na web: site da fotógrafa juliafullerton-batten.com. No Netflix: The Place Beyond the Pines. Para viajar: Conheça Siem Reap, no Camboja. Para fotografar: Lente 50mm f/1.8, barata e com ótimos resultados.
Felipe Mansur é diretor de cena e sócio da Alice Filmes