O voo da mulher no mercado da publicidade: higher, further, faster
O filme Capitã Marvel estrou na última quinta-feira (7) no Brasil. Ambientado nos anos 90, o longa revela a trajetória da protagonista descobrindo e aceitando quem é, seu passado, seus poderes e missão.
Além de ser uma luva (Se prepara, Thanos!) no Universo Cinematográfico Marvel, me fez pensar como as mulheres alçam voos que vão cada vez mais alto, mais longe e mais rápido no mercado da publicidade.
Já faz algum tempo que a área historicamente machista e dominada por homens segue em direção a um saudável equilíbrio. E quem ainda não entendeu isso é bom trocar a minúscula fresta cheia de remendos e armadilhas para uma abertura de verdade.
Bom… é isso ou recolher a porta caída depois.
Por um motivo muito simples que Carol Danvers, a Capitã Marvel, entende perfeitamente.
Ela só queria pilotar. O plano não era dominar o mundo nem impedir que outros voassem. Ela só queria admirar a vista e fazer o que nasceu para fazer da melhor forma. Porque se preparou para isso.
Mas Carol cresceu ouvindo coisas para derrubá-la antes mesmo se sair do solo: “Você não pode!” “Você é fraca!” “Isso não é coisa de mulher!” “Ninguém vai acreditar em você!” “Não vai durar uma semana!”
Palavras venenosas ditas por pessoas que deveriam inspirar e incentivar. Pais, colegas, chefes, mentores.
Claro que ela ouviu, mas não aceitou. Caiu muito. Errou muito. Correu muito. Durante a jornada para ser a grande pilota que tanto desejava, Carol recuou diversas vezes para voar melhor. Ela ajudou quem a decepcionou, arrebentou todas as aparências, teve coragem nas piores situações e manteve intacta sua personalidade.
E foi no meio desse turbilhão, veja só, que ela ganhou poderes e virou super-heroína mais poderosa da Marvel. Mas não foi o que veio de fora que a tornou tão forte. Sua magnitude no MCU só é possível por uma característica muito mais importante: ser apenas uma humana.
Cair e levantar.
Ser empurrada e se equilibrar.
Colocada de escanteio e voltar a jogar.
Ser presa e se soltar.
Ser desacreditada e continuar.
E levantar de novo.
E levantar mais uma vez.
Até não ser mais derrubada.
O mesmo acontece com as mulheres que trabalham em agências e anunciantes. Claro que elas não têm superpoderes nem estão no meio de uma guerra alienígena (espero que não!). Elas só querem pilotar. Porque se prepararam para isso e sabem voar.
Cada vez mais mulheres lutam juntas, sinalizando que talvez chegou o momento de levantar mais uma vez para não ser mais derrubada.
Projetos ajudam o mercado a repensar práticas arcaicas e se ajeitar de dentro para fora. Consultorias e debates como o More Grls e o Think Eva explicitam os erros grotescos e fornecem um combo de informações e ferramentas para elimina-los de vez.
Clientes que têm o equilíbrio como critério para escolher suas agências.
Pesquisas que cristalinam como a equidade de gêneros não é assistencialismo nem oportunidade pra PR, mas vital para os negócios. É mais diversidade, mais consumo, mais dinheiro.
Agências como Artplan e Lew’LaraTBWA com recrutamento às cegas.
O Gerety Awards que teve uma repercussão imediata com um júri composto 100% por criativas.
Iniciativas como o #MulheresnaFicha, o Jogo das Damas, do Spotify, o Mulheres (In)visíveis, da Adobe, o Entre, da Publicis, o Todxs, da Heads, o Feminipsum, o Reposter, da Skol, o Django Girls e tantas outras mexendo com agências e clientes.
A sociedade que reage imediatamente se uma propaganda não retrata a mulher livre, real e humana.
E ainda não acabou.
Carol diz com todas as letras que não precisa provar nada para ninguém. E nem as profissionais do mercado. Levantando a cada puxada de tapete, reagindo a cada passada de pano para atitudes machistas, se ouvindo para superar traumas, se unindo para resolver problemas complexos e se desafiando a deixar uma indústria melhor para as que virão, as mulheres formam um verdadeiro esquadrão que está voando muito mais alto, mais longe e mais rápido.
Se por acaso ainda há dúvidas disso, bom, só resta pegar a pipoca e assistir. Pode escolher 2D, 3D, XD, o D que quiser.
Como a autora de histórias em quadrinhos americanas Kelly Sue DeConnick escreveu em um dos arcos de Capitã Marvel: Higher, Further, Faster, More. Pois é, vem mais.
Bom filme. A vista vale a pena.