Roberto Icizuca, da Ø1 Digital: o futuro da distribuição não está mais do outro lado do mundo

Antes de 2008 e da popularização dos smartphones, o Japão era o único lugar do mundo onde o mercado mobile realmente funcionava: era possível comprar produtos e serviços pelo aparelho e baixar conteúdos diversos diretamente pelas operadoras. Tratava-se, literalmente, do “país do futuro” quanto às aplicações em dispositivos móveis. Quando o iPhone – seguido por aparelhos de outros fabricantes e plataformas – se tornou uma febre e o modelo de loja de apps modificou o mercado permanentemente, as empresas de telefonia japonesas tiveram que se adaptar à nova realidade para escapar de uma crise monumental.

O modelo de clubes de apps, portanto, surgiu nesse país com uma mecânica simples: a partir de uma assinatura de baixo valor cobrada juntamente com a conta de telefone, os usuários poderiam fazer o download e acessar diversos aplicativos, sem a necessidade adquiri-los nas app stores. O negócio deu tão certo que logo foi adotado em outros países.

Hoje todas as operadoras brasileiras contam com seu clube de apps, que configura um dos meios mais fáceis de alcançar um grande número de usuários sem solicitar nenhum dado extra – como o número de cartão de crédito ou a criação de outros vínculos contratuais. Além disso, as estratégias promocionais das operadoras facilitam o crescimento do modelo em todos os países onde foi estabelecido.

Essa iniciativa, porém, cobre apenas uma parcela do quanto o mercado de aplicativos pode crescer para além das formas mais conhecidas de distribuição. Para a plataforma Android, por exemplo, a loja Google Play (da mesma companhia que criou a plataforma) representa apenas 40% da distribuição mundial. Na China, 75% dos aplicativos para Android não são vendidos pela loja da Google, mas por vias alternativas.

O futuro da distribuição não está mais do outro lado do mundo. Agora, para entrarem no mercado, os desenvolvedores e publishers de apps já não dependem exclusivamente dos acordos diretos com as gigantes Apple e Google. Os contatos diretos com as operadoras representam a consolidação da liberdade de fazer o conteúdo móvel chegar ao usuário da forma que mais lhe agrada.

*Diretor de marketing e operações da Ø1 Digital