Herança familiar? Não, pura fuga mesmo! Eu vivi numa realidade de histórias que eram produzidas, mas que o “gênero” não me agradava. Até que um dia comecei a reconhecer o significado destas histórias e principalmente os valores que elas carregavam. Não tem escapatória, querendo ou não, somos um pouco de nossos pais. E com sorte você consegue guardar as características boas e lidar com aquelas não tão boas.
Semana passada, no dia 2 de julho de 2015, minha mãe faleceu. Há 20 anos, foi meu pai. Então fui ao cemitério cumprir os protocolos. Protocolos e rituais que não ajudam em nada na despedida digna. Afinal, é uma história inteira de vida que se vai e o que mais queremos é que as boas lembranças fiquem. Velório, enterro, funeral, enfim, palavras que já são pesadas e que remetem a conotações tristes, pesadas e muitas vezes com uma boa carga de “culpa”, afinal, sempre podíamos ter feito algo mais pela pessoa que não está mais aqui.
Quando soube que ela morreu, na casa dela, sem sofrer, logo fui pra lá. E resolvi sentar em sua cama para observar os detalhes de cada objeto que ela deixava. Uma lupa de mais de 30 anos que ela insistia em usar mesmo estando com o visor todo riscado e embaçado, um cartão de uma empresa de SEBO onde ela vendia os livros do meu pai (mais de 10 mil), uma agendinha que a lembrava de momentos como meu aniversário de casamento, que é agora dia 12 de julho, tinha até dia de São João Batista, que ela me ligava TODO ano pois “meu nome não é Joni” (mesmo), no registro é João Batista.
Esta era a minha mãe. Ela acaba de nos deixar mas também já desperta o interesse pelas suas histórias. Mais do que quando ela estava viva, afinal, somos humanos, e só valorizamos algo quando percebemos a falta dele.
No velório, escolhi uma casa diferente, com café, salgados e doces. Com uma TV onde resolvi passar imagens dela feliz da vida com netos, parentes e amigos, e uma decoração parecida com a casa em que ela morou a maior parte de sua vida. Tinha até “playlist” com músicas que ela gostava.
As pessoas chegavam, se sentiam sem jeito, sem saber o que falar, o que é normal. Um dia eu estava num velório e foi automático. Quando me aproximei do familiar disse: “parabéns”. Mico!
Mas quando elas se soltavam e descobriam que era permitido rir, não era pecado falar de coisas boas da vida e ninguém seria recriminado por usar um pouco de senso de humor, o clima mudou.
O que existe em comum entre todos estes eventos é que eles (e muitos outros) ajudaram a “manter a história da minha mãe viva”.
E quando chego em casa, e começo a pensar no que fiz, deixei de fazer e principalmente no que ela gostaria de ver, ao lado do meu pai, comecei a construir planos e projetos para o futuro. De novo, histórias, só que desta vez planejadas.
Seu corpo se foi mas a cada “causo” que alguém contar, sua história permanecerá viva.
E o que uma marca tem a ver com a minha mãe? Simples: Imagine que um dia você está fazendo o velório da sua marca. Preste atenção se as pessoas estão conversando das histórias que ela deixou ou se estão simplesmente cumprindo o tão falado “meus sentimentos” ou “nossa como ela está em paz” ou “está melhor que a gente”! Terá muita gente? Eles realmente sentem a falta da presença “dela” (sua marca, neste exemplo)?
Agora volte para a sua realidade e pense: Se a sua história não for boa ela vai morrer pois ninguém vai querer “passar pra frente”. Agora, se acontecer o contrário, prepare-se pois sua marca pode ser muito mais perene do que você pode imaginar.
E qual é a grande sacada para que ela entre na cabeça das pessoas e não saia mais?
Uma delas é essa: mantenha sempre o interesse e curiosidade da sua audiência.
To be continued…
*Joni Galvão é fundador da The Plot Company