Partícula ou onda? Foi um golpe e tanto para a física clássica a descoberta de que uma partícula, algo ultraconcentrado, pode também apresentar o comportamento de onda – tudo depende do ponto de vista do observador.

Um dos legados dessa importante experiência em física quântica foi mostrar que nosso ponto de vista influi na configuração da realidade. Não se trata de força do pensamento. Trata-se do poder da percepção, do jeito que enxergamos algo ou alguém, que muda conforme mudamos de posição.

O nosso olhar sobre o cenário econômico é um bom exemplo disso. Como bem observou o economista Delfim Netto: “Deus foi muito duro com os economistas, porque na economia o átomo pensa, fala e reage”. O temor de que a economia vai piorar – e não apenas a piora em si – inibe investimentos, afeta a bolsa de valores, gera demissões, intimida novos planos. Por outro lado, a expectativa otimista vitamina empreendimentos, estimula contratações e projetos, incentiva a compra de máquinas e equipamentos. É a clássica ideia da profecia autorrealizáve l: aquilo que você espera hoje, acaba acontecendo amanhã, pois seus esforços foram direcionados nesse sentido.

Não é a primeira vez, nem a última, que enfrentamos uma crise econômica – saímos de todas elas, diga-se de passagem. Trocamos de moeda várias vezes, sobrevivemos à inflação de três dígitos, convivemos com o risco de desabastecimento no supermercado. Hoje novamente nos deparamos com grandes desafios. Cabe a nós escolher como enxergar e atuar sobre eles. Parar de investir seria um retrocesso; gastar muito, arriscado. É hora de saber gastar bem, mantendo os pés no chão e os olhos apontados para a paisagem que desejamos pós-crise. Esse desenho do amanhã, essa aposta no futuro está ao nosso alcance.

A etimologia da palavra crise serve-nos de inspiração. No latim, “crisis” está relacionado a um momento de decisão, de mudança súbita. “Krísis”, em grego, refere-se ao poder de distinguir, decidir, julgar perante uma grande dificuldade. A medicina de Hipócrates utilizava esse substantivo para descrever a evolução de uma doença: se o paciente entrava em “krísis” após ser medicado, os médicos anteviam dois caminhos: cura ou morte. Uma crise, portanto, deve ser vista não como o fim, mas o começo de um ciclo. Ela proporciona a chance de criarmos algo diferente, melhor e novo. A crise é, ao final de tudo, o sintoma do esgotamento de padrões e hábitos. Logo, é oportunidade de virar o jogo.

*CEO da Dentsu Aegis Network Brasil e Isobar Latam