Nizan Guanaes: quero ser um embaixador dos jornaisUma daquelas mentiras que se repetem exaustivamente e acabam parecendo verdade é a de que os jornais estão acabando. Não estão. Pelo contrário, nunca se leu tanto jornal como hoje.

Antes a gente lia o jornal pela manhã e ia trabalhar. Hoje lemos o jornal pela manhã, vamos trabalhar… e continuamos lendo o jornal o dia todo. Na tela do computador, do celular, do tablet.

Estou de férias no exterior, de onde escrevo este artigo. E de onde sigo lendo os jornais brasileiros diariamente, o que seria impossível anos atrás.

Em comunicação, audiência é vida. E o público dos jornais não para de crescer. Basta ver os números da audiência dos jornais quando se conta os leitores digitais. Basta ver como são os conteúdos de jornais e revistas que pautam o debate nas redes sociais.

Claro, nesse novo mundo da comunicação não tem moleza para ninguém. Por isso, audiência maior não basta. É preciso encontrar modelos de negócios novos que rentabilizem essa audiência e sirvam de contrapeso à perda de receita publicitária.

E é preciso também encontrar os novos leitores que querem consumir novos assuntos. Como escrevi outro dia na Folha, no papel de Ombudsman por um dia, a principal ameaça da web não se dá pela plataforma tecnológica, porque os jornais podem usar as redes para expandir seus leitores, como já estão fazendo.

A ameaça da web aos jornais se dá na plataforma mental. As redes sociais atestam diariamente que os interesses hoje vão muito além da grande política e da grande economia que dominam os jornais. Por isso é preciso investir cada vez mais nos temas mais próximos do dia a dia das pessoas, sem, contudo, perder o olhar macro, indispensável para informar e dar sentido à vida privada.

E o produto digital não precisa ser melhor nem muito menos matar o produto em papel. Este propmark, que completa gloriosos 50 anos, tem edição digital, mas seu maior impacto acontece na versão impressa. Apesar do grande sucesso do kindle e outros leitores digitais, o livro em papel segue reinando no setor.

Não importa em que plataforma, os jornais foram, são e serão essenciais para o desenvolvimento humano. Mesmo ainda muito pequenos, foram fundamentais já na Revolução Americana do século 18, unindo as colônias na luta contra os ingleses. O que levou Thomas Jefferson a dizer: “Prefiro viver num país com jornais e sem governo do que num país com governo, mas sem jornais”.

Cortando para os dias de hoje, vemos na França e ao redor do mundo como um pequeno jornal satírico de Paris, com tiragem de 60 mil exemplares, pode convulsionar o planeta. São incontáveis os sites, blogs e posts atacando sensibilidades religiosas e políticas. Mas os terroristas se concentraram no Charlie Hebdo, provando que o poder provocador e mobilizador dos jornais segue firme e forte.

Por isso abraço a conta da ANJ (Associação Nacional de Jornais) na Africa Zero como uma conta e uma causa. E mais do que um publicitário, quero ser um embaixador dos jornais.

*Sócio-fundador do Grupo ABC