Em mãos a Info de novembro 2014. Uma revista que emagrece mês após mês, mesmo porque seu editorial é, entre todas as demais publicações, o mais efêmero. Entre o término da impressão e a chegada à casa de seus leitores o mundo já deu, no mínimo, duas voltas…

Mas, vamos à comida. Nas páginas 16 e 17 os temas são “Digital à la carte” e “Gastronomia a domicílio”. Na 16, a revista fala de um restaurante de Recife que abandonou o cardápio de papel por um cardápio digital projetado. Isso mesmo, à sua frente, onde você vê os pratos, a quantidade que será servida, e faz o pedido diretamente à cozinha e sem a necessidade do garçom ficar anotando. Segundo a matéria, por meio da tela projetada na toalha, você também pode avaliar a comida e serviços, e o garçom só entra na hora de trazer e servir os pratos.

Tô fora! Quero conversar com o garçom, quero ler o cardápio, pegar no guardanapo, e não tenho o menor interesse em projeções. Deixem-me viver, por favor. A comida é a atração principal, mas não abro mão, em hipótese alguma, de todas as demais: do bom dia, do como vai, dos talheres, da cadeira, da toalha, dos sorrisos, dos gestos, dos vizinhos de mesa, do copo, dos olhares, do barulho discreto, da voz do maître, do gestual do garçom, da timidez do commis, do “estava bom, doutor?”.

Na página ao lado, “Gastronomia a domicílio”. Um e-commerce que oferece os serviços de comida pré-preparada para quem quer cozinhar ao estilo dos chefs. Como assim? O cara adora cozinhar e por falta de tempo abre o notebook, pega uma receita na tela e já aproveita para acionar o site Cheftime que, além de fornecer a receita, encarrega-se de enviar para a casa do “chef sem tempo” todos os ingredientes. Segundo a revista, o serviço foi lançado em julho, tem quatro sócios e já entregou desde então 500 kits… não para em pé. Pior ainda: nenhum chef de verdade tem o menor interesse, e todas as demais pessoas preferem recorrer ao velho e bom delivery dos restaurantes

Em momentos como esses é que volta a velha história e lição de Manuel Francisco dos Santos, o Garrincha, o maior dos ídolos de Pau Grande (cidade onde viveu). Que perguntou a Vicente Feola, depois de uma preleção num jogo entre Brasil e Rússia, se ele tinha combinado tudo o que estava falando com os russos…

Os empreendedores insistem em não conversar com os “russos”. Em não procurar saber se, verdadeiramente, os “russos” estão interessados em abrir mão de tudo o que lhes dá prazer, e verbalizarem coisas do tipo “queremos que os usuários fiquem com a parte divertida de cozinhar”, como disse um dos quatro sócios do Cheftime. Mal sabia ele que tudo o que o Cheftime oferece e faz é tirar o barato e o prazer dos que verdadeiramente gostam de cozinhar.

Depois reclamam que o cliente é chato…