Independentemente de crises e pandemia, independentemente da comunicação a distância ser hoje tão natural quanto um grão de arroz ou pedaço de pão, similar a um lenço, a uma chave que se carrega em um bolso e se aciona quando se fizer necessário ou não, algumas pessoas seguem interessadas em ser proprietárias, em possuir, um jatinho executivo.

A frota desses jatinhos em nosso país está quase batendo na casa das 10 mil unidades. Portanto, e definitivamente, qualquer tentativa de se compreender o fenômeno pelo viés da sensatez, naturalidade e comedimento, esquece. É a vontade do ter por ter, de dar vazão, a minoria, a um hobby, ou de exibir riqueza e poder, de manifestar uma monumental vaidade e soberba.

Ninguém precisa de um jatinho executivo. Absolutamente ninguém, mas, mesmo assim, o número de proprietários não para de crescer. E o número dos novos compradores, segundo os últimos dados divulgados, também não para de crescer.

Meses atrás mais uma Labace foi realizada no Aeroporto de Congonhas, feira que reúne e atrai toda a cadeia de valor dos jatinhos, e potenciais interessados. Foram expostas 45 aeronaves que chegavam a custar, valor unitário, alguma coisa próxima dos US$ 70 milhões.

Entrevistado por Luciana Dyniewicz do Estadão, Flavio Pires, diretor-executivo da ABAG – Associação Brasileira de Aviação Geral, disse: “Meses atrás, se me perguntassem, diria ser um desequilíbrio decorrente da oferta e da procura. Não parece mais ser o caso”, e complementado pelo diretor de vendas da viação executiva da Embraer, Gustavo Teixeira: “O setor vive um bom momento e hoje 30% dos clientes da Embraer são de primeira compra. Antes eram 10%... Há uma migração da aviação comercial para a executiva... na pandemia, as empresas perceberam as vantagens de ser usuária de avião executivo, de ter um jato, e acabaram migrando...”.

Nada mais a comentar e muito menos refletir. Não faz o menor sentido. Não existe nenhuma outra razão para empresas continuarem a recorrer a jatos executivos em 2023, e em todo o admirável mundo novo que temos pela frente. Nenhuma, nem mesmo segurança.
Mas, e como mantinha atrás de si, em sua sala, meu saudoso amigo e acadêmico da Academia Brasileira de Marketing, Alex Periscinoto: “Não pergunte por que as pessoas são assim; são assim mesmo”.

2 – Quem precisa de arenas?

Os mais novos não se lembram, mas, de mais de uma única casa onde se praticava o boliche, na cidade de São Paulo, do dia para noite, entre 1963 e 1969, abriram mais de cem. Menos de dez anos depois, dois terços fecharam as portas, e o terço sobrevivente tinha dificuldades de parar em pé. Não e apenas os pinos, as casas de boliche...

Depois vieram as iogurterias, paleterias, barbearias e outros modismos que foram ficando pelo caminho. Agora, a bola da vez, ou a onda, são, as arenas!

De uma única arena de megassucesso, a do Palmeiras, a Allianz, o Morumbi acabou convertendo-se em arena, também, com algumas adaptações, o mesmo acontecendo com o estádio do Corinthians, mais alguns meses com o Pacaembu, e agora acaba de ser anunciado que o Canindé, também, se converterá numa arena.

São Paulo comporta, em menos de 20 anos, cinco arenas? Certamente não, por maior que seja a população da cidade, e por mais que parte de seus moradores, até agora, tenham revelado grande apreço pelos shows de suas bandas e cantores preferidos, e outros derivativos.

Assim, uma vez mais, o perigo de as coisas não darem certo no Brasil é muitos correrem atrás e descobrirem que o suposto pote de ouro não tinha tanto ouro assim...

Mas é como as coisas funcionam, como a cabeça das pessoas “raciocinam” e, daqui a dez anos, dessas cinco arenas, três, de forma alternada, permanecerão vazias...

Não obstante todas as lições recentes, empresários e profissionais repetem os mesmos erros, e ingressaremos na próxima década com notícias sobre uma mais que certa “crise nas arenas...”. Como ensinou o filósofo George Santayana, “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”, ou, na versão do filósofo Edmund Burke, “Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br