11 de março de 2013. Poderia ser um dia qualquer na minha vida. Que eu acordava e levantava meus 172 kg da cama. À noite não era fácil: tinha de dormir sentado para respirar direito. Vestir a roupa também exigia todo um contorcionismo.
Mas o pior mesmo era colocar o tênis, que, se não estivesse amarrado, precisaria de ajuda. Depois ia ao trabalho, deixava minhas coisas na mesa e voava direto pro boteco ao lado onde, claro, mandava um bom café da manhã. O pedido clássico eram duas salsichas empanadas, um x-bacon e aquela coquinha pra lavar o estômago. Nem vou comentar sobre todas outras refeições que já deu pra imaginar, mas no fim era uma rotina intensa comendo sem parar, muitas vezes até de madrugada. Como disse, esse poderia ser um dia qualquer. Mas não era. Esse foi o primeiro dia da minha dieta. Eu nem sabia, mas a partir daí minha vida mudaria bastante.
Eu gosto de dizer que emagreci na raça porque não fiz cirurgia bariátrica nem tomei remédios, só fechei a boca e suei a camisa. Mas entendo e respeito quem também conseguiu por esses caminhos.
E, de qualquer jeito, o processo de reeducação alimentar é superdifícil. No meu caso, lembro bem desse primeiro dia. Foi cliché: começou numa segunda-feira. Mas, antes dela, houve inúmeras tentativas, todas sem sucesso. Essa deu certo. Alguns fatores me ajudaram a conseguir dessa vez, mas não teve nenhuma mágica, nenhum grande estalo, então acho que no fim o mais importante tenha sido esse excesso de tentativas mesmo.
Lembro até hoje quando cheguei à noite em casa morrendo de fome e tinha uma bacalhoada na mesa. Aí pensei “ah, dane-se” e comecei a fazer aquela pratada. Mas no meio da preparação pensei “o que eu tô fazendo?”. Aí parei, desisti. E consegui passar pelas primeiras 24 horas no sufoco. É como qualquer dependência, é aquele papo de “um dia após o outro”.
E assim foi indo: consegui o segundo, o terceiro, o quarto… Rolou direto até que completei meu primeiro mês, quando surgiu a ideia de dar um break pra relembrar os velhos tempos. Afinal, foi um mês, né? Ou sei lá qual outra desculpa pensei na hora. Só que aí, quando me pesei, tomei um susto: tinha mandado embora 15 kg.
Caramba, era quilo, hein. Isso mexeu comigo, me fez pensar até onde poderia chegar se continuasse. Então segui em frente com o acordo de dar uma pausa depois de 90 dias. O negócio é que sempre no fim de cada mês era a mesma coisa: 12 kg a 15 kg a menos. Não teve jeito, a empolgação foi demais, tive de continuar. Lembro de muita gente falando que uma hora isso ia parar e que precisaria buscar ajuda especializada. Mas não teve nada disso e o resultado foi que, em novembro, estava com 105 kg.
Eu tinha uma meta, um sonho de chegar aos “dois dígitos” na balança e vi que já estava próximo, mas sabia que ainda era o começo. Aquele peso ainda estava muito volátil, era preciso continuar firme pro corpo se adaptar. Mas já dava pra finalmente dar o tão esperado break.
E dei. Só que ele rolou diferente do que pensei. Minha relação com a comida já tinha mudado bastante, já conseguia controlar mais a compulsão.
E em pouco tempo retomei minha jornada. Fui embora perdendo um pouquinho de massa gorda aqui, ganhando um pouquinho de massa magra ali, até que cheguei onde estou hoje.
Foram 8 anos, 82 kg a menos e um montão de histórias engraçadas, tristes e impressionantes.
Fora os aprendizados que tive no período sobre disciplina, organização, equilíbrio, adaptação, resiliência e por aí vai.
É tudo bem bacana e vai muito além de perder quilos, mas não vai dar pra contar aqui.
Quem quiser saber mais, é só me procurar pelas redes e mandar uma mensagem que compartilho minha experiência com o maior prazer.
Então por ora farei como Forrest Gump e me despeço dizendo: “e isso é tudo que eu tenho a dizer sobre isso”.
Dudu Kotolák é associate creative director da Ana Couto