A pesquisa anual Trust Barometer, da Edelman, não deixa dúvidas: as empresas são a única instituição de confiança no Brasil. Sim, você está lendo direito. Nem as ONGs, nem a mídia e muito menos os governos chegam a patamares mínimos de confiança.

O governo teve apenas 39% de respondentes com alguma confiança (o índice mínimo é de 60% para garantir uma percepção de confiança). A mídia, 48%. E as ONGs, 56%.

As empresas passaram raspando, com 61%, mas é nelas que se deposita a última esperança de um mundo melhor. Se, por um lado, o empresariado pode se ufanar dessa percepção, por outro, deve se sentir pressionado pela responsabilidade de levar nas costas a carga de uma melhora do mundo que habitamos.

Sim, a pressão é grande: a mesma pesquisa mostra que muitos esperam que as empresas preencham o vácuo deixado pelo governo. 68% dos respondentes declaram que os CEOs devem interceder quando os governos não resolvem os problemas da sociedade.

60% esperam que os CEOs tomem uma iniciativa proativa, sem aguardar que os governos ajam. E 54% acham que os CEOs devem prestar contas ao público e não somente à diretoria e acionistas das suas empresas.

Do lado dos consumidores, a pressão é ainda maior: 73% dos consumidores acham que têm poder para forçar as corporações a agir. E a visão de dentro das empresas não é menos pressionadora: 71% dos empregados se julgam empoderados para forçar suas empresas a atuar em benefício da sociedade.

Sabe o que significa tudo isso? O bastão da responsabilidade foi passado para as empresas e elas não têm para quem entregar. É com elas mesmo!

Quando comecei a trabalhar – lá se vão mais de 35 anos – ouvi dos meus patrões uma advertência: devemos nos ater às questões intrinsicamente inerentes ao nosso negócio.

Não devemos emitir opiniões quanto aos problemas da sociedade. Muito menos aderir a movimentos sociais. Pois é... Esse tempo acabou. Agora, as empresas são cobradas por um posicionamento e por um ativismo corporativo.

Mesmo que isso lhes custe caro. Basta ver o imbróglio da Disney em Orlando, se posicionando perante um governo estadual (Flórida) retrógrado e ultraconservador. A represália veio forte, mas a empresa não abriu mão das suas convicções.

Num mundo assolado por mudanças climáticas preocupantes, pelo retorno de governos ultranacionalistas e reacionários, pela violência de uma guerra e o recrudescimento da xenofobia e da intolerância e ainda pelo desejo de igualdade, paz e justiça, “sobrou” para as empresas.

Os consumidores tenderão a analisar melhor a atitude da corporação antes de decidir pela compra de um produto ou serviço. Por outro lado, o mercado financeiro, capitaneado pelo poderoso Larry Fink, CEO do fundo de investimento Black Rock, com carteira de mais de 1 trilhão de dólares, cobra das empresas o tal do triple bottom line, ou seja: um conjunto de atividades que extrapola simplesmente o resultado financeiro.

Que apresente ações em benefício das pessoas e do planeta. É pressão de todos os lados. E as empresas geram um efeito dominó, ao exigir de seus fornecedores uma atuação igualmente engajada.

Não à toa o acrônimo ESG invade implacavelmente a pauta dos conselhos de administração e da diretoria executiva das empresas. Virou um mantra. A agenda ESG entrou de vez no dia a dia dos executivos e não deve sair de lá tão cedo. Porque a pressão deve continuar e só crescer.

Inútil dormir, que a dor não passa. A notícia boa é que tudo isso pode ser positivo para a performance das empresas.

Pesquisas demonstram que, sim, essa atuação responsável e empática pode gerar mais lucro às empresas. Então é isso: empresários, estamos com vocês! Podem agir, que nós aumentaremos o nosso nível de confiança e de preferência!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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