No mundo digital de hoje, algumas marcas e personalidades parecem jogar com o fogo ao usar a controvérsia como ferramenta de marketing. A lógica parece simples: uma declaração chocante aqui, um comentário polêmico ali, e pronto, o nome está nas bocas e timelines de todos. Mas, apesar das críticas frequentemente negativas, este tipo de estratégia ainda atrai uma quantidade muito grande de atenção, que pode paradoxalmente se traduzir em engajamento e até lucro.
O curioso desse tipo de abordagem é que, mesmo quando as pessoas reagem negativamente, elas acabam contribuindo para o ciclo. Comentários, compartilhamentos, debates nas redes sociais, tudo isso serve apenas para alimentar o algoritmo, aumentando a visibilidade da marca ou da figura em questão. No fim, mesmo que a atenção inicial seja por razões negativas, a quantidade de tráfego e interação que isso gera pode acabar sendo capitalizada de formas inesperadas.
Pior ainda, esse tipo de tática pode criar um ambiente onde o sensacionalismo e a provocação são mais recompensados do que a integridade e a responsabilidade. Quando a controvérsia se torna uma estratégia viável, há um risco real de que discursos prejudiciais se tornem mais frequentes, já que o retorno em termos de atenção é tão alto.
E olha que irônico, cada vez mais, algumas figuras do cenário empresarial estão descobrindo a fórmula da polêmica que gera lucro: a estratégia é justamente essa que citei acima, eles criam controvérsias que, apesar de inicialmente trazerem uma enxurrada de críticas, acabam se convertendo em engajamento e, surpreendentemente, eles aproveitam desse mesmo engajamento para promover produtos ou serviços.
Esse ciclo revela uma espécie de cinismo calculado. No calor do momento, declarações controversas são feitas, as quais geram um grande volume de discussões nas redes sociais. Essas discussões, mesmo que negativas, aumentam significativamente a visibilidade de quem as fez. Segue-se então o inevitável pedido de desculpas, muitas vezes percebido como uma tentativa de suavizar as coisas, mas que na realidade faz parte de uma estratégia bem pensada.
Este método, embora possa parecer eficaz em termos de números, levanta questões éticas. Até que ponto é aceitável utilizar a controvérsia, sabendo que ela pode machucar ou alienar, apenas para depois capitalizar sobre essa mesma audiência?
Mas não acaba por aí, sabe quem involuntariamente impulsiona o engajamento dessas personalidades? As próprias pessoas indignadas com as declarações controversas. Ao comentarem, compartilharem e discutirem essas falas nas redes sociais, elas inadvertidamente ampliam a visibilidade da figura em questão. Isso coloca o nome dele em evidência, escalando posições no Google e virando tendência nas redes, o que atrai ainda mais atenção para o assunto.
Este método pode até parecer eficaz em números, mas traz consigo uma carga pesada de questões éticas. Até onde é aceitável usar a controvérsia, sabendo que isso pode machucar ou alienar, só para depois capitalizar em cima dessa mesma audiência? Isso é algo que deveríamos realmente apoiar ou incentivar? Talvez seja hora de repensarmos como valorizamos e reagimos a essas estratégias no nosso cotidiano digital.
Essa prática não só corrói a confiança na figura pública ou na marca, mas também pode ter um efeito duradouro na percepção de sua integridade e autenticidade. E no final, enquanto o ciclo de controvérsia e lucro pode temporariamente aumentar receitas, ele também pode comprometer a lealdade e o respeito do consumidor a longo prazo. A verdadeira sustentabilidade empresarial vem de construir relações de confiança e respeito, não de manipular emoções e situações para ganhos imediatos.
Ana Lima é CEO da Agência Alma e Alma Influência