Vivemos em um tempo em que a tecnologia nos encanta e nos assombra. A inteligência artificial escreve textos, cria imagens, resolve problemas complexos e interage conosco com uma fluidez que, por vezes, beira o humano. Mas, ironicamente, enquanto os algoritmos aprendem a nos imitar com precisão crescente, ainda tropeçamos em aspectos básicos da nossa própria humanidade: empatia, escuta ativa, autorregulação emocional, respeito ao outro.

No universo da comunicação, essa contradição é ainda mais evidente. As máquinas já conseguem simular criatividade e entregar campanhas inteiras em minutos. Mas nenhuma IA (ainda) é capaz de substituir a sensibilidade humana de perceber o que não foi dito, de entender o não verbal, de criar conexão real com o outro. Para isso, precisamos de inteligência emocional — não de uma esperteza emocional que só enxerga o valor da praticidade, da facilidade, da rapidez.

"Só se percebermos o que nos faz humanos poderemos continuar a ser humanos", afirma o historiador israelense Yuval Noah Harari. E a pergunta que me faço hoje é: estamos prontos para lidar com uma tecnologia que avança exponencialmente, enquanto nossa maturidade pessoal evolui em ritmo linear — ou, como diriam as más línguas, regride?

Trazendo para o nosso mundinho hypado, o risco é transformar o trabalho criativo em uma esteira de execução automatizada, onde esquecemos que comunicar é, antes de tudo, um ato humano. Se não voltarmos a buscar nossa inteligência afetiva com a mesma urgência com que estamos treinando as máquinas, corremos o risco de criar campanhas eficientes, mas ocas. De impactar sem tocar. De gerar produtividade sem sensibilidade.

Mais do que dominar ferramentas, é hora de aprofundar a consciência. De investir em escuta, em convivência, em autoconhecimento. De lembrar que uma revolução só faz sentido se avança de mãos dadas com uma evolução. Porque a inteligência artificial já chegou — mas a emocional ainda está a caminho. E somos nós os responsáveis por resgatá-la e acelerá-la.

Como diria Sócrates (atribuído pelo ChatGPT, embora não oficialmente confirmado pelos historiadores humanos): "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses."

E, talvez, os verdadeiros benefícios da inteligência artificial.

Fábio Barreto é sócio e diretor-geral da Wide Comunicação